A rede inglesa “Sky News” noticiou com destaque as declarações do Arcebispo de Canterbury no sentido de que “a invasão do Iraque tem provocado danos terríveis à região”.
Criticando a ação do Reino Unido e dos EUA, que tachou de imperialista, o Arcebispo chegou a dizer que “a definição ocidental de humanidade não está sendo observada”.
O Coronel Lawrence, do Exército Inglês, também foi à imprensa dar o seu testemunho:
“O povo inglês caiu numa armadilha na Mesopotâmia. Ele dificilmente poderá sair de lá com dignidade e honra. Ele está sendo enganado pela dissimulação constante da verdade.
Os comunicados de Bagdá faltam com a sinceridade e são incompletos. A realidade é pior do que aquela que nos tem sido dita. Nossa administração é mais ineficaz e sangrenta do que aquela que nos descrevem.
Ela é indigna de nossa história e revelar-se-á brevemente muito abjeta para um tratamento ordinário. Nós estamos às vésperas de um desastre”.
Na mesma entrevista ele denunciou fatos gravíssimos:
“Cidades inteiras foram arrasadas pela aviação inglesa. Em quatro meses 10.000 pessoas morreram. Os blindados, por terra, forçavam as populações em pânico rumo a campo aberto, onde poderiam exterminá-las melhor”.
A entrevista do Arcebispo de Canterbury foi publicada no dia 25 de novembro de 2007. A do Coronel Lawrence no jornal “Sunday Times” do dia 22 de outubro de 1920. Sim, 1920! 87 anos antes! Já estamos em 2022 – e a guerra naquela região continua!
É aí, no detalhe das datas, que ficamos chocados com a absoluta falta de sensibilidade e até de clemência da orgulhosa e cristã civilização ocidental, há mais de um século causando dor e sofrimento a um mesmo povo.
Todas essas invasões foram feitas por pessoas que se dizem civilizadas. A elas as palavras de Auguste Rodin: “a civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”.
Todas essas invasões foram feitas em nome da Justiça e por pessoas que se dizem justas. A elas o alerta de Thomas Jefferson: “eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.
Todas estas invasões, enfim, foram feitas em nome de Deus. Àqueles que as determinaram dediquemos o grito de Blaise Pascal: “nunca o ser humano pratica o mal tão completamente e com tanto prazer como quando o faz por convicção religiosa”.
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO.