Pedro V. Feu Rosa

O Japão é um país pequeno e pobre, que não produz uma única gota de petróleo. O Brasil é um país imenso e riquíssimo, auto-suficiente em petróleo, e que já ambiciona até entrar para a OPEP.

Os japoneses estão revoltados, segundo li no jornal ‘Asahi’, porque o litro da gasolina pura subiu para R$ 2,73. Os brasileiros estão pagando, em silêncio, bem acima pela gasolina misturada com álcool que mais se aproxima do padrão da de lá.

O Japão não produz um único quilo de minério de ferro. O Brasil é um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo. É só olhar para os portos e ver nosso minério (uma riqueza não-renovável) sendo exportado dia e noite, sem parar.

Com ele o Japão fabrica um automóvel e o vende por R$ 41 mil. Este mesmo carro é vendido aqui por R$ 94.500.

O Japão é atormentado por terremotos. Isto encarece as construções – sem contar que lá há escassez de cimento, ferro, etc. e que a mão-de-obra é caríssima.

Li no jornal ‘Japan Times’ que o preço médio de um apartamento em Tóquio está em 5,2 vezes o salário anual médio de um trabalhador.

O Brasil é imenso e livre da praga dos terremotos. Isto reduz o custo das construções – sem contar que nossa mão-de-obra é das mais baratas do mundo e que há matéria-prima à vontade.

Aqui um apartamento com dois dormitórios em algum subúrbio de São Paulo equivale a 7,2 vezes o salário anual médio de um trabalhador.

Escolhi o Japão como parâmetro ao acaso. Poderia ter escolhido a Suíça (também um país miserável, sem riquezas naturais), a Coréia do Sul (outro lugar pobre, devastado por guerras) ou a Alemanha (até poucos anos destruída e ocupada por quatro países estrangeiros) e os números não se alterariam tanto.

Realmente não dá para entender. Todos os países que citei, pobres ou devastados por guerras e desastres, se desenvolveram maravilhosamente.

Enquanto isso o Brasil, um país riquíssimo em tudo e que vive em paz, tem alguns dos preços mais altos do mundo e salários quase que humilhantes, tudo fruto de uma economia baseada praticamente no extrativismo, na exportação de recursos naturais no mais das vezes não-renováveis e esgotáveis.

Diante deste quadro fico a recordar Max Nunes, ao exclamar que “o Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza – porque a pobreza não agüenta mais ser explorada”.


  • Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO.