PEDRO VALLS FEU ROSA

Você sabe o que é “meat”? E “no meat”? Trate de aprender. Saber isso é muito importante aqui no Brasil. Há algum tempo, almoçando em uma churrascaria da brasileiríssima Salvador, encontrei na mesa uma placa com os dizeres “Meat” e “No Meat”.

Perguntei ao garçom o que era aquilo. Ele me ensinou que era “servir” e “não servir” em inglês (eu não sabia – achava que “meat” significava “carne”). Pedi uma placa em português. Ele me respondeu que não tinha.

Perplexo, indaguei como uma tradicional churrascaria brasileira só tinha plaquinhas em inglês. A resposta: “recebemos muitos turistas”. Perguntei: “e os brasileiros?” A resposta: “em inglês é mais chique”.

Agora olhe pela janela com olhos de ver: quem circular por alguns bairros brasileiros terá a impressão de estar no exterior, tal a quantidade de letreiros em inglês!

Já não temos mais “pausas para lanche” – um evento elegante deve ter “coffee break”. O Brasil já não exporta mais matérias-primas – apenas “commodities”. O comércio daqui acabou com as “liqüidações” – nossas vitrines exibem orgulhosamente avisos de “sale” ou “off”.

Nas fachadas dos mais toscos botequins tornou-se comum a expressão “Happy Hour”. Já não temos propaganda, apenas “marketing”. Almoçamos em “self-services”. A cada dia temos menos academias de ginástica e mais “fitness centers”.

Nossos radinhos de pilha e televisores, no mais das vezes feitos por brasileiros para brasileiros, quase nunca têm botão de “liga” e “desliga” – somente “on” e “off”. A maioria dos nossos carros, feitos aqui para nós mesmos, vem com o painel em inglês.

Cheguei a ouvir de um fabricante de equipamentos de ginástica que seus produtos ficavam encalhados até o dia em que ele trocou os painéis em português por outros em inglês – aí finalmente suas vendas cresceram.

Enquanto isto, em triste contraste, vemos nossos compatriotas sofrendo as maiores humilhações nos aeroportos estrangeiros. São freqüentes as reclamações quanto ao procedimento para obtenção de um singelo visto, que importa, não raro, em longas filas e constrangimentos. Até onde somos correspondidos em nossa admiração provinciana?

Não prego o isolamento. Temos muito a aprender com outros povos e outras culturas. Isto nos faria bem. Apenas defendo que um pouquinho mais de amor-próprio não nos faria.


  • Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO.

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