Pedro Valls Feu Rosa Planeta Terra, 2020. Instala-se no seio da humanidade séria pandemia. Vidas são perdidas. Economias são duramente atingidas. Mas teria sido tudo culpa exclusiva de um vírus? Ou será que temos negligenciado alguns debates que, se realizados com lucidez, teriam poupado vidas e riquezas? Haveria algo de bom a ser retirado deste quadro? Iniciemos pela pandemia em si. Dizem que epidemias são periódicas – já aconteceram antes e voltarão a acontecer. Pois é – e praticamente nenhum sistema de saúde do planeta estava minimamente preparado. Isto em um mundo no qual tanto se fala da saúde pública como prioridade! Será que chegado o momento de discutirmos as bases da administração pública? De definirmos os parâmetros a serem obedecidos por quem nela adentre? De escolhermos se ela pode ser ou não uma carreira, e caso positivo até que ponto? Falemos, agora, das bolsas de valores, do pânico que instilaram e dos prejuízos que causaram. Elas tem estado no epicentro de praticamente todas as grandes crises financeiras que a humanidade sofreu. Há algum tempo assisti a um depoimento do então diretor do FMI, Strauss-Kahn, relatando ter ouvido de um especulador, em seguida à crise de 2008, a frase: “Deviam aumentar a regulação, pois somos gananciosos. É inevitável”. Está certo, isso? Abordemos, finalmente, o comportamento de algumas empresas. Da mercearia alemã que passou a vender um vidro de álcool por vinte Euros às grandes empresas espanholas que comercializaram máscaras de proteção por até mil Euros. Recordemos os produtos que sumiram para reaparecerem muito mais caros dias depois. Os equipamentos de saúde vendidos a preços extorsivos para Estados aflitos. Os abusos praticados contra diversos consumidores. Até quando agirão de forma praticamente irrestrita? É realmente legítimo o ato de se vender qualquer coisa a qualquer preço, conforme o momento? Como compatibilizar-se o livre mercado com o interesse público? Eu não sei a resposta para sequer um destes questionamentos – não tenho conhecimento ou mesmo discernimento para tanto. Mas, dentro de minhas limitações, sei perceber quando algo está errado. E claramente muito coisa está errada. Corrigir alguns destes erros confunde-se com a própria luta contra o mal – é tarefa para os séculos. Mas não discuti-los seria… outro erro! Pedro Valls é desembargador, jornalista e escritor
|
|