Dias antes de Temer ser internado com problemas urinários, surgiu o seguinte comentário feito durante almoço familiar: “O que leva um sujeito em idade avançada a se segurar no poder com tanto empenho?”. E olha o contexto: o sujeito em questão tem situação econômica estável, uma mulher jovem e bonita – “prendada e do lar”, dizem – e um filho pequeno, bons motivos para largar pra lá aquele pepino da presidência, onde bate recordes de rejeição, e ir aproveitar a oportunidade de estar mais próximo da mulher, conviver, viajar, educar o filho de perto e tal.
Filosofei que o poder é afrodisíaco citando alguns governantes que também parecem se realizar mais exercendo o poder do que ao lado da mulher e dos filhos ou qualquer outra companhia favorita. “Mulher de político é viúva de marido vivo”, costuma-se dizer. Há também outro motivo por tanta tesão pelo poder, que é a blindagem do mandato para evitar eventuais processos. Afinal, político de carreira, enfiado em tantas campanhas, caixa dois e demandando despesas, não costuma passar ileso. E se não deixou rastro, certamente aparecerá algum adversário para arrumar algum.
Assim, raciocinando linearmente, o melhor para Temer seria ele ir cuidar da própria saúde, enfiar a viola no saco e aproveitar o resto de vida que lhe sobra. Para os processos que virão por conta de suas relações espúrias, principalmente com aqueles irmãos da JBS, ele tem conhecimento e dinheiro suficientes para arrumar bons advogados. De resto, em idade provecta, muita coisa é prescrita. Certo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, acusado de improbidade administrativa, protelou o quanto pode para chegar aos 70 anos e adquirir certa imunidade. Enfim, são coisas do emaranhado de nossas leis.
Contudo, Temer se agarra ao poder com unhas e dentes e parece disposto a morrer por ele: barganha emendas milionárias para comprar votos no Congresso, depois culpa os velhinhos da Previdência pela crise, e segue perpetuando um modelo econômico concentrador e excludente. Não é à toa que o grande empresariado, com ouvido de mercador, já concluiu: “Ruim com Temer, pior sem ele”. E tome reforma meia-sola para manter quase tudo como está. E deixa rolar até 2018, embora a violência e narcotráfico sigam em perigosa escalada ascendente, a educação piora, saúde idem, e a geração de emprego e renda patina.
Há também quem veja esse cenário pelo prisma de um filme de terror e nele Temer tem papel importante. Vale legendar que ele tem o apelido de “mordomo de vampiro”. A propósito, durante sua internação no hospital, as redes sociais pipocaram de comentários.
Registro dois que resumiram o sentimento da galera: “Corre o risco de escapar” e “Só vai morrer se alguém cravar uma estaca de madeira no peito”. Decididamente, Temer não desfruta de boa imagem.
E como a data do Halloween está aí, vale prestar atenção nas ilações que irão surgir com o Presidente indesejado pela maioria e bancado pela minoria poderosa. Pensando bem, sorte do Temer que a nossa aculturação americana ainda supera o movimento nacionalista destinado a trocar a festa Halloween pela festa do Saci. Crendice por crendice, bruxaria por bruxaria, que fossemos pelo menos originais.
Mas já imaginou vampiro de uma perna só, baforando cachimbo entre caninos longos e saltitando no meio do redemoinho? Então, tome abóboras talhadas, bruxas, magias, gostosuras e travessuras. Não se deve esquecer a vassoura, que é para ver se o Temer entende.