Desde a derrota na final da copa de 50, o mundo tinha esquecido o que era o Brasil, e o brasileiro tinha esquecido como enfrentar o mundo.

O pudor do brasileiro perante as adversidades da vida, fez do Brasil um país inibido moldado a partir do complexo de vira-latas.

“Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

Mas, em uma completa tradução, futebol e Brasil são sinônimos e não seria a maior paixão de um povo que iria inibi-lo pra sempre.

Coube então, ao mesmo futebol recolocar o Brasil no mapa. Era necessário ir a Suécia em 58 e voltar campeão mundial.

Precisávamos de um rei! Acreditem ele teria só 17 anos, ao chapelar o zagueiro sueco, Pelé driblou toda a desconfiança de um povo, em um grito que ecoou para o mundo, um grito entalado na garganta: O BRASIL ERA CAMPEÃO MUNDIAL.

E de agora em diante, o mundo inteiro teria que nos mencionar, ao falar de futebol. O Brasil, agora de ego inflado e campeão mundial tinha um herói.

Herói negro, humilde e adolescente, mas não menos herói que qualquer outro que use capa. Pelé virou celebridade, sinônimo de sucesso e ascensão social.

De uma hora pra outra, todo mundo queria ser Pelé. Surge aí o mito do jogador de futebol (sonho mais charmoso de todo brasileiro).

Sonho esse reforçado na figura malandra de Mané Garrincha após o Bi em 62. O personagem do jogador mistificava o brasileiro, como tem que ser.

Aquele que anda malandro, com fama de celebridade, sorriso no rosto e o principal: bola e samba no pé. Quem não ia querer?

O sonho do jogador escondia os problemas de uma país de terceiro mundo, e dava ao brasileiro um alicerce para acreditar. A figura do herói então se torna necessária, como única forma de desviar-se do complexo de vira-latas.

E por incrível que pareça, o brasileiro não deixou de sonhar, esse herói não deixou de aparecer. Pode ser que não seja mais aquele herói de uma odisseia incrível como Pelé e Mané, mas o mito do herói não saiu do Brasil e nem do futebol.

Para o flamenguista veio Zico, para o Corintiano Rivelino e Sócrates, o vascaíno tinha Dinamite e dessa forma o futebol foi dividindo seus tronos, mas sem diminuir a representatividade de seus reis.

Assim, o jogo foi construindo nossa cultura. O Brasil fez dele sua arte, fama e paixão, e ele fez do Brasil conhecido, importante e cultuado.

Triste em dizer que não somos mais o país que mais consome o jogo, ou o que mais investe nele. Mas nunca deixaremos de ser o país do futebol, porque aqui ele nunca será só um jogo. O brasileiro fez do futebol seu estilo de vida e seu escudo!

(Por PEDRO LARANJA MAR/2021)