Dizem os historiadores que em 1800 os trabalhadores norte-americanos amargavam uma jornada de trabalho de 80 horas semanais. Em 1890 melhorou um pouco: passaram para 60 horas.
Em 1919, para 50 horas. Em 1926 a empresa Ford chegou a 40 horas, tendo sido seguida pelo governo norte-americano nos idos de 1938 – eles acreditavam que esta mudança tornaria os trabalhadores mais produtivos.
Hoje, de uma forma geral, as jornadas de trabalho se situam entre 40 e 44 horas semanais pelo planeta afora – salvo, evidentemente, algumas exceções.
Ou seja: a despeito de toda a evolução tecnológica do último século continuamos atados a uma jornada estabelecida em 1926. Há alguma lógica nisto? Segundo Andrew Barnes, proprietário de uma empresa australiana, não.
Após ler um estudo segundo o qual os funcionários são plenamente produtivos apenas duas horas e meia por dia, decidiu fazer uma experiência denominada ‘semana de quatro dias’. Definiu-se que as quartas-feiras seriam livres.
Observou-se, após cerca de um ano, sensível queda nos afastamentos por doença e elevação do bem-estar geral dos funcionários. Todos ganharam – até a empresa.
Idêntica experiência fez a australiana Kath Blackham na empresa que gerencia. Aos resultados: o faturamento da empresa cresceu 46% e os lucros quase triplicaram.
Mérito exclusivo da experiência? Ela mesma reconhece que não – mas igualmente não hesita em registrar sua grande importância. Transcrevo suas palavras: “O número de faltas caiu e a satisfação dos funcionários aumentou. Você tem aquela sensação de segunda-feira algumas vezes por semana”.
Jarrod Haar, professor de gestão de recursos humanos na Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia, não se disse surpreso com os resultados. Segundo ele, “para os patrões, ‘desligar’ no meio da semana dá maior retorno financeiro. A pausa às quarta-feiras significa que você retorna revigorado para trabalhar às quintas-feiras. As pessoas se sentem mais produtivas”.
Ao redor do mundo diversas outras experiências neste sentido tem sido conduzidas por administradores. Alguns acertam, outros erram.
Mas – e eis o que interessa – iniciou-se uma salutar discussão sobre jornadas de trabalho e temas correlatos. Dela poderá resultar uma humanidade mais próspera, produtiva, serena e feliz.
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve semanalmente para a AGENCIA CONGRESSO.