Belmonte, de mestre da UDV, a vassalo da direita

BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – Sem floresta não existirá mais mariri e nem chacrona, o cipó e a folha usados a milênios, que juntos, produzem o chá de ayahuasca.

A União do Vegetal entrou em uma crise interna após a cobrança de mestres da religião por apoio de alguns integrantes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e até por participação em atos golpistas contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A religião é conhecida pelo ritual do chá de ayahuasca e pela defesa de princípios como a paz e preservação das florestas. Foi fundada pelo mestre Gabriel.

O incômodo com o discurso político desses líderes fez o caso chegar, inclusive, à Justiça. Integrantes da União pediram a proibição temporária do uso do chá, bebida com efeitos psicodélicos, para investigar a sua utilização de forma descontextualizada, com doutrinação ideológica a favor de atos antidemocráticos pela cúpula do grupo.

A união da folha com o cipó resulta num chá que acelera o autoconhecimento.

No Brasil, o uso da ayahuasca é permitido apenas em rituais religiosos. A reportagem conversou com membros e ex-membros da União do Vegetal, sob reserva, que apontam que a instituição vem se bolsonarizando desde 2018, mas que atingiu o ápice durante e logo após as eleições do ano passado.

Procurada, a UDV afirmou que é apartidária, não professa ideologias políticas e não teve preferências por candidatos a presidente da República. Diz, ainda, que chegou a afastar dirigentes que cometeram excessos.

Houve afastamento de pessoas que defenderam atos golpistas, mas também de quem criticou em público a entidade pelo proselitismo de mestres a favor de Bolsonaro.

Um dos mestres mais antigos da UDV, é o empresário e advogado milionário Luís Felipe Belmonte, um dos organizadores da tentativa frustrada de criar a Aliança pelo Brasil, partido que pretendia abrigar os apoiadores de Bolsonaro.

Ele fez diversas doações para criar o partido- seria o vice presidente nacional –  e chegou a fazer doações financeiras para o filho Renan Bolsonaro. Mas a Aliança morreu na praia.

Com certeza essa sigla iria reunir extremistas de direita, milicianos, militares, garimpeiros, e todos que se aproveitaram do governo Bolsonaro para enriquecer.

Antes do segundo turno das eleições, um dos principais líderes da União do Vegetal, Raimundo Monteiro, 88, o mestre Monteiro, enviou uma mensagem a integrantes da religião afirmando que havia duas agendas políticas antagônicas no Brasil.

Em menção indireta aos dois candidatos à Presidência, respectivamente Bolsonaro e Lula, disse que uma das agendas defendia “valores cristãos, sustentados pela União do Vegetal”, como “a família tradicional –homem, mulher e filhos”, enquanto a outra propunha “pautas incompatíveis com os mais elementares fundamentos morais e espirituais de nossa doutrina”.

“Não se trata aqui de cercear os direitos de cidadania dos nossos filiados, mas de lembrá-los que, acima das ideologias (sejam elas quais forem) e dos interesses políticos, estão os princípios morais e espirituais da doutrina da União do Vegetal”, orientou Monteiro.

Arrematou o comunicado dizendo que para ficar no “caminho da retidão” é necessário seguir a “doutrinação reta” do mestre, “sem dela divergir em qualquer circunstância e sob qualquer pretexto, seja na vida particular, seja na vida pública”.

Com Estado de Minas