Prisão, no entanto, deve ser cumprida em casa.

Quem é o misterioso patrono da causa?

BRASÍLIA – A menos de um mês das eleições, são muitas as zonas de sombra que ameaçam deslegitimá-las. O alerta foi dado, há uma semana, pelo comandante do Exército, general Villas-Boas.

Ele não foi específico, mas é óbvio que se referia ao fato de que um atentado que derruba o candidato favorito, Jair Bolsonaro, e o deixa fora de combate, com risco de vida, não é um fato banal e muda toda a lógica do processo, gerando confusão entre os eleitores.

A incerteza quanto às condições de a vítima se recuperar – e, se eleita, assumir e governar – pode pulverizar os seus votos ou mesmo instalar um ambiente hostil a quem disso vier a se beneficiar.

O fato, repita-se, não é banal, mas, de certa forma, está sendo assim tratado. O noticiário resume-se aos boletins médicos e a pesquisas contraditórias que avaliam apenas os efeitos estatístico-eleitorais do episódio. Convenhamos, é bem pouco.

Fica no ar a sensação – e isso envolve parte da mídia – de que não há disposição de se ir mais fundo no acontecido, não obstante sua evidente gravidade. A prisão de Lula, por exemplo, provocou bem mais tumulto e debates, nos escalões acadêmicos e institucionais, até aqui, senão silentes, ao menos evasivos diante dos fatos.

As investigações, pela pouca clareza, não têm contribuído para atenuar os efeitos psicossociais do atentado. A versão de que se tratou da ação de um lobo solitário, um doente mental que agiu por conta própria, não se sustenta. E não se sustenta por inverídica.

O perfil inicialmente difundido, de homem rude, iletrado, foi desmentido já na audiência de custódia. O criminoso tem curso superior, é articulado e conhecido militante esquerdista.

Teve filiação de sete anos ao Psol e presença devidamente documentada, em fotos, em comícios do PT, onde posa ao lado de próceres do partido. Isso, porém, em tese, não o impediria de ser o que quer aparentar, um criminoso autônomo, sem cúmplices.

Mas sua circunstância não se esgota aí. A presença, na sequência imediata do crime, de quatro renomados advogados, dois deles viajando de jatinho particular – e informando que foram pagos à vista e em espécie – não deixa dúvidas de que não se tratou de ação solitária. Quem é o misterioso patrono da causa?

Alguém desempregado há meses não disporia dos artefatos encontrados na pensão em que se hospedou (e cujas diárias pagou à vista e em espécie): quatro celulares e um laptop.

Há indícios de que, no próprio local do crime, havia parceiros. São informações já conhecidas e amplamente divulgadas – e que, no entanto, não geraram até aqui desdobramentos.

Os detetives célebres da literatura – Sherlock Holmes, Dupin ou Poirot – partiam de uma indagação: a quem interessa o crime?

Dez dias após o atentado, e com o criminoso confesso detido com o seu aparato tecnológico, não se sabe de mais nada. Prossegue a tese insustentável do lobo solitário, terrorista avulso.

O que se sabe é que a condição da vítima não é boa, está fora da campanha, inclusive na hipótese de segundo turno. Não participará dos debates televisivos e não se sabe se poderá ser substituído por seu vice, general Mourão. Informa-se que não.

A regularidade da campanha, se é que o termo cabe, depende agora de boletins médicos. E estes não autorizam otimismo.

Ruy Fabiano é jornalista