A agonia é pavorosa. Alguns estão ali há horas, outros há dias – ou mesmo há semanas. Esqueça o “jeitinho” ou até eventual recurso a algum juizado – afinal, não há mesmo estrutura que os comporte.
As condições de higiene são degradantes. Os insetos circulam livremente pelo ar impregnado daquele odor fétido derivado das indisposições dos pacientes.
Vez por outra percorre o local algum profissional da saúde. À semelhança do Criador vai decidindo quem morre e quem vive.
Do lado de fora do hospital inquietam-se os entes queridos daqueles doentes. As visitas não são possíveis e as informações saem a conta-gotas – afinal, faltam servidores do lado de dentro. Só lhes resta ficar lá. Daquele jeito.
A enfermaria do hospital, às voltas com estoques de suprimentos praticamente exauridos, afixa diante do balcão uma lista do que está faltando.
Encerra-se um turno. Realiza-se a contagem dos mortos e remoção dos seus corpos, abrindo-se vagas para outros doentes que aguardam amontoados dentro de ambulâncias.
Algum desavisado poderia pensar que as linhas acima descrevem o drama vivido pela humanidade ao longo da epidemia causada pelo vírus Covid-19, a partir da aurora de 2020. Nada mais falso!
Aí está, sem retoques, a descrição do que ocorre desde que me entendo por gente em vasta parcela dos hospitais públicos deste planeta.