BRASÍLIA – O ex-ministro Antonio Palocci informou, em conversa com advogado, que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam sido os beneficiários de um terço de propinas pagas durante a criação e montagem da Sete Brasil, em 2010.
A Sete foi uma sociedade de propósito específico constituída para construir 29 sondas, destinadas à exploração de petróleo, pela Petrobras, na camada pré-sal.
Na época, a previsão do governo Lula era a de que a empresa hoje em processo de recuperação judicial atrairia investimento de US$ 25 bilhões até 2020, sendo que R$ 8 bilhões foram colocados no projeto por fundos de pensão estatais, bancos estatais e privados e empreiteiras, como a Odebrecht e a Queiroz Galvão.
A declaração de Palocci ocorreu durante consulta a um advogado na quarta-feira da semana passada, na véspera de ser interrogado pelo juiz federal Sergio Moro na ação penal a que responde na Justiça Federal de Curitiba por corrupção.
Palocci consultou o criminalista para saber sobre a possibilidade de fechar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
O desejo manifestado pelo ex-ministro, que cumpre prisão preventiva na Polícia Federal (PF), em Curitiba, foi repassado a procuradores que atuam na Lava-Jato.
Segundo Palocci, sua versão também pode ser corroborada pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, já condenado a mais de 40 anos de prisão sob a acusação de ter desviado mais de R$ 650 milhões da Petrobras.
Duque tenta fechar acordo de delação premiada há quase um ano. De acordo com o ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma e da Fazenda na gestão Lula, os outros dois terços das propinas do projeto da Sete Brasil eram distribuídos do seguinte modo:
Um terço para funcionários e operadores ligados à Petrobras e a parte restante seria destinada a executivos da própria Sete Brasil.
Durante a conversa com o advogado, Palocci teria criticado Lula e dito que se sente abandonado pelo ex-presidente.
“Não vou pagar esse pato sozinho”, desabafou, segundo pessoa a par das tratativas para o acordo de delação premiada.
O ex-ministro, porém, ainda não constituiu advogado para negociar sua colaboração. Seu atual defensor, José Roberto Batochio, que também é advogado de Lula, já informou que renunciará à causa se o ex-ministro formalizar a intenção de fechar acordo.
Palocci teria compreendido a extensão de sua situação criminal. A avaliação dele e de seus atuais advogados é a de que receberá sentença superior à imposta pelo juiz Sergio Moro ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, (PMDB-RJ), condenado a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem.
O ex-homem forte dos governos do PT já decidiu que a delação premiada é o único caminho viável para livrá-lo de uma pena pesada.
No entanto, o ex-ministro ainda não estaria pronto para aceitar o que investigadores chamam de “processo” para se tornar delator: reconhecer e assimilar a condição de réu confesso, apontando meios de provar práticas ilícitas das quais teve participação.
Reservadamente, os procuradores sustentam que o objetivo da PGR não é atingir Lula, mas contribuir para o caso.
Como está na carceragem da PF, o ex-ministro conversa com outros réus que fizeram delação premiada, caso do empresário Marcelo Odebrecht, e com acusados que ainda negociam seus acordos, como José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, sócio da OAS e ex-presidente da construtora.
Procurada, a defesa de Lula informou, por meio da assessoria de imprensa, que seus advogados “não comentam especulação de delação premiada” e que o ex-presidente “não cometeu nenhum ato ilícito antes, durante ou depois do exercício da Presidência”.
Com informações do Valor