Por Pedro Valls Feu Rosa – Amanhece na selva. Após uma noite de combates intensos, iluminada pelos traços da munição de alto calibre utilizada, os soldados percebem que estão cercados pelo inimigo. Desesperados, solicitam apoio aéreo – que chega na forma de um helicóptero equipado com metralhadoras.

O inimigo, porém, não se intimida e passa a alvejá-lo com tiros de fuzil de precisão. O brutal tiroteio é, então, interrompido pelo som de uma explosão mais forte – o helicóptero, atingido em um ponto sensível, cai e explode.
 
Uma coluna de veículos blindados é enviada ao local. Inferiorizado, o inimigo bate em retirada. No caminho leva prisioneiros – que executa logo em seguida a uma bárbara sessão de tortura. Segue-se uma cruel caça à unidade responsável pela execução, apenas encerrada após todos os seus integrantes terem sido mortos em violenta troca de tiros ou executados sumariamente.
 
O inimigo respondeu atacando um quartel com granadas de mão e metralhadoras. Acuados, somente restou aos soldados a fuga desordenada. Misturaram-se aos silvícolas da região em desabalada carreira – pelo caminho, largaram até o pavilhão nacional.
 
A reação, porém, não tardou. Apoiados por um grupamento blindado os soldados retornaram em maior número. Após dois dias de combate feroz, eliminaram o inimigo. Comemoraram o feito disparando tiros para o ar e gritando palavras de ordem, sob o olhar apavorado dos silvícolas que por lá ainda estavam. Ali ao lado, porém, a guerra continuava – superada fora apenas uma batalha, afinal.
 
Cada um de nós já soube de cenas assim, tendo como palco as maiores cidades deste país – a cada mais transformado em selva. Algumas delas aconteceram a poucos metros de nossas mais sagradas instituições. Ou de nossas casas.
 
Convidado a dar sua opinião sobre a realidade do Brasil, o Chefe de Polícia de Nova York, William Bratton, assim falou: “O Judiciário não funciona. Os policiais não trabalham em harmonia com os promotores, que não atuam em conjunto com os juízes. A Polícia Militar não trabalha em consonância com a Civil”.
 
Talvez, em um momento no qual tanto se fala em complexas reformas, devêssemos prestar mais atenção a estas palavras tão simples e lógicas! Suspeito que esteja aí, no final das contas, o mais preciso diagnóstico de um problema que nos envergonha perante o mundo.