21/09/2017. Crédito: Carlos Moura/SCO/STF. Brasil. Brasília - DF. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante sessão plenária.

BRASÍLIA – Depois de um 2017 com roteiros inimagináveis e reviravoltas no noticiário político, a temporada de 2018 promete. O destino de muitos políticos — dos mais diversos partidos, cargos e estados — está atrelado ao Poder Judiciário.

São desembargadores e ministros dos tribunais superiores que baterão o martelo sobre candidaturas nas eleições de outubro, prisões após condenações em segunda instância, foro para julgamento de parlamentares e centenas de casos envolvendo a Operação Lava-Jato. Sem falar de temas espinhosos, como aborto e descriminalização do porte de drogas.

Na prática, as eleições de outubro terão início no próximo 24 de janeiro, quando está marcado o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso do tríplex do Guarujá (SP).
 
Condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e meio de prisão, o petista recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). E, da decisão dos desembargadores, depende a candidatura presidencial de Lula.
 
A Lei da Ficha Limpa impede que condenados por órgãos colegiados disputem as eleições. Mas, ainda que condenado, há uma corrente jurídica que defende a possibilidade de disputa sub judice, mediante apresentação de recursos a tribunais superiores.
 
O futuro de Lula depende ainda de outra decisão jurídica. É que a discussão em torno da prisão de condenados em segunda instância — ainda que caiba recurso da decisão — continua na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF).
 
O assunto veio à tona com duas ações apresentadas pela Ordem de Advogados do Brasil (OAB) e pelo Partido Ecológico Nacional (PEN). Embora o STF já tenha fixado entendimento nesse sentido por duas vezes em 2016, várias decisões individuais de ministros têm soltado condenados nessa situação. Anteriormente, só se admitia a prisão após esgotados todos os recursos possíveis nas quatro instâncias judiciais.
Vista
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a expectativa é de que o primeiro caso em tramitação por lá chegue ao plenário no mês que vem. Trata-se do ex-ministro das Cidades e ex-deputado federal Mario Negromonte, atualmente conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, acusado de ter combinado propina de R$ 25 milhões para beneficiar empresas do setor de rastreamento de veículos.
 
Já no STF estão em andamento 273 inquéritos envolvendo políticos com foro privilegiado — 124, deles no âmbito da Lava-Jato. Apenas dois estão prontos para julgamento, o da senadora Gleisi Hofmann (PT-PR) e o do deputado federal Nelson Meurer (PP-PR).
 
E a restrição das regras do foro privilegiado também é um dos temas do ano no STF. Por enquanto, o placar está em 8 a 0 para a mudança de entendimento sobre o benefício de deputados federais e senadores.
 
No fim de 2017, o julgamento foi suspenso em razão de um pedido de vista do ministro Dias Toffoli. Ainda não há data para a retomada da discussão e, até o fim, ainda é possível a mudança de voto. A Constituição Federal prevê que parlamentares devem ser julgados pelo STF em qualquer processo criminal. O Supremo quer alterar o entendimento para que crimes comuns e cometidos fora do período do mandato sejam levados à primeira instância.
 
Em resposta ao Supremo, a Câmara dos Deputados também promete se debruçar sobre o tema. No último mês de 2017, o presidente da Casa autorizou a instalação da comissão especial para apreciação da Proposta de Emenda à Constituição — já aprovada pelo Senado —, que extingue os benefícios para todas as autoridades, com exceção dos presidentes dos Três Poderes. A previsão é de que o colegiado comece a funcionar em fevereiro e o tema seja votado no fim de março.

Pauta que vai além dos Poderes

E não só de polêmicas na política viverá o Supremo Tribunal Federal (STF) este ano. Um dos temas que aguardam decisão dos ministros é a descriminalização do aborto. Em 2015, a 1ª Turma do STF definiu que a interrupção da gravidez nos primeiros três meses não deveria ser considerada crime — ao decidir pela revogação da prisão de cinco pessoas detidas em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro.
 
No entanto, no ano passado, ao julgar o caso envolvendo uma grávida de 12 semanas e mãe de dois filhos, a relatora Rosa Weber negou a liminar e transferiu a discussão para o plenário. O Código Penal permite o aborto em casos de estupro ou quando a mãe corre risco de vida. O STF já permitiu em casos de feto anencéfalo.
 
Não menos polêmica é a discussão sobre a liberação do uso de drogas. O julgamento de um recurso apresentado ao STF começou, e, por enquanto, três ministros votaram pela descriminalização do porte de drogas. Mas ainda há uma discussão se a regra valeria apenas para a maconha ou qualquer tipo de entorpecente.
 
Após os votos de Gilmar Mendes, Edson Fachin e Roberto Barroso, a votação foi suspensa por um pedido de vista do então ministro Teori Zavascki — morto no ano passado, vítima de um acidente aéreo.
 
Ainda na pauta social, estão à espera de decisão da Suprema Corte a possibilidade de transexuais alterarem o nome e o gênero no registro civil sem necessidade de cirurgia de mudança de sexo; as regras para demarcar terras quilombolas, a doação de sangue por homens homossexuais e o fornecimento de remédios de alto custo pelo SUS — todos parados por pedidos de vista. (Correio Braziliense).