A disputa pelo governo do Estado neste ano registrou a primeira movimentação fora dos bastidores, que foi o lançamento da pré-candidatura de Renato Casagrande (PSB) ao cargo.
Na prática, esse foi o primeiro toque no tabuleiro do xadrez que será essa disputa. O curioso é que esse anúncio feito pelo ex-governador foi apressado pelo fenômeno fake news (noticias falsas), que deve contaminar o processo sucessório cada vez mais assentado em plataformas digitais.
Nas últimas semanas, partidários do governador Paulo Hartung (PMDB) espalharam que Casagrande não iria disputar o governo, mas, sim, outro cargo, Senado ou Câmara Federal.
Argumento: menor desgaste, campanha mais barata e maior possibilidade de se eleger concorrendo às duas vagas ao Senado ou uma das dez cadeiras da Câmara Federal. Faz sentido, porém política também se faz por caminhos tortos e improváveis.
Então, ao anunciar oficialmente sua pré-candidatura, Casagrande pretende neutralizar esse fake news, ainda que possa, mesmo que involuntariamente, estar criando outro fake news.
Afinal, as convenções partidárias que definem candidatos vão ocorrer em junho, julho. E até agosto, quando é feito o registro de candidaturas, pode haver alterações dos nomes e cargos.
Ou seja, até lá muita água vai correr e o desfecho dependerá da fase que agora se inicia: mudança de partidos, composição de alianças, estrutura e financiamento de campanha, as convenções partidárias. Daí, até agosto, quando começa a campanha obrigatória no rádio e TV, há prazo para Casagrande ou qualquer outro candidato fazer eventual mudança de rota.
Agora, em tese, a pedra de toque no xadrez da sucessão está com o governador Paulo Hartung, que é considerado habilidoso estrategista. Ele tem até o dia 7 de abril para sair do Executivo se quiser concorrer ao Senado ou se viabilizar em alguma chapa para presidência da República.
Se permanecer no governo após o próximo dia 7, estará sinalizando que vai para reeleição ou nada, passa a bola e sai de cena. Difícil é acreditar nisso, salvo imprevisto de percurso.
Há ainda outra hipótese, considerada remota, por ser desgastante: PH sai do governo agora e tenta se viabilizar nacionalmente e, mais adiante, conforme o cenário local e nacional, volta ao tabuleiro da sucessão estadual como candidato ao governo ou bancando algum concorrente.
O difícil aí é saber quem, em seu grupo, poderá substituí-lo. O vice, César Colnago (PSDB), o secretário Zé Carlinhos da Fonseca, o senador Ricardo Ferraço e os deputados Amaro Neto e Erick Musso costumam ser mencionados, mas não chegam a empolgar o chamado núcleo hartunguista.
Durante a entrevista coletiva em que anunciou sua pré-candidatura, Casagrande foi questionado se não estaria fazendo um movimento fora de hora. Não tendo mandato, ao contrário de Hartung, em curto prazo ele não tem regra eleitoral a cumprir, poderia muito bem aguardar as manobras do governador.
Casagrande preferiu se antecipar, aí sim, beliscando um fake, pois ninguém ignora o adversário principal: “Vou cuidar de viabilizar minha candidatura e dos meus aliados”, quando citou a senadora Rose de Freitas (PMDB), o prefeito de Vila Velha, Max Filho (ainda PSDB), e o deputado Sérgio Majeski (ainda PSDB), que, por sinal, dizem, seria o vice dos seus sonhos.
Seu arco de alianças incorpora ainda Luiz Paulo Velloso Lucas (PPS), o prefeito de Vitória Luciano Rezende (PPS) e Theodorico Ferraço (DEM), ainda na bronca com o governo.
Estratégias à parte, esses são os primeiros toques de uma sucessão que não será para amadores. E que poderá não ficar restrita aos dois antagonistas, o ex e o atual governador, agora notórios rivais.
Nos bastidores, especula-se que Max Filho e Rose de Freitas, dependendo dos arranjos partidários, ainda possam se lançar na disputa reforçando o bloco de candidaturas de oposição ao governo.
Quanto ao governador, ele tem circulado de Norte a Sul, participa de eventos, assina convênios, faz visitas às obras, dá palestras. No início do seu atual governo, Hartung havia previsto dias difíceis. “Vamos comer sal, no ano que vem”, disse ele às vésperas de 2015.
Agora, chegou a hora de abrir o pacote de bondades, de cativar e fortalecer aliados. Ele não tem medido esforços nesse sentido. Dias atrás, de paletó e meio sem jeito, foi visto numa solenidade dançando “La Bamba” ao lado do performático prefeito de Colatina, Serginho Meneguelli. Vida de político tem dessas coisas.