Luiz Trevisan é jornalista capixaba – Foto Agência Congresso

Desde agosto de 2017, a senadora Rose de Freitas (PMDB) vem declarando a jornalistas que é pré-candidata ao governo. E que se for preciso, irá para a convenção do PMDB disputar legenda com o governador Paulo Hartung (PMDB).

Embora sejam do mesmo partido, ela e ele costumam falar línguas distintas. E mais: ela tem compromisso de caminhar junto com o ex-governador Renato Casagrande (PSB) nesta fase de pré-campanha para, mais adiante, decidirem quem será o candidato do grupo ao governo.

Nas condições de hoje, segundo as primeiras pesquisas de consumo interno, Casagrande larga na frente, o que é natural. Tem o recall de ter ocupado o cargo e de encarnar, nos últimos tempos, o papel de principal opositor de Hartung.

Já a senadora, com forte base municipalista, atua mais em Brasília atendendo demandas de prefeitos, vereadores, deputados e outras lideranças regionais. Ocorre – eis aí a primeira encruzilhada do bloco opositor – que diferente de Casagrande, Rose tem pouco a perder se disputar o governo.

Se ela tem mais quatro anos de mandato no Senado, Casagrande precisa logo de um para preservar seu capital político. Pragmaticamente, melhor seria Rose tentar o governo e Casagrande uma vaga de senador.

Porém, por essa via, Rose ainda terá que convencer lideranças e convencionais do PMDB a optar por ela em detrimento de Hartung, que tem histórico de vencedor nas urnas e o Executivo nas mãos.

Tudo seria mais simples se Rose ou Hartung trocasse de partido, mas essa é uma alternativa que só será definida em abril, no último minuto da prorrogação. Essa pode ser a próxima esgrima entre os dois. Afinal, escolhas e estratégias eleitorais não admitem erro de cálculo, nem de tempo e espaço.

Então, se hoje Casagrande tem maior recall para governador, mas não tem rede de apoio, em caso de queda eleitoral, Rose pode se jogar sem susto? Nem tanto. Disputar contra Hartung nunca foi fácil, a campanha é cara, desgastante. E estará sob a pressão constante das lideranças nacionais.

Exigirá ainda astúcia de caçador e paciência de pescador, duas virtudes da senadora e do governador, o que é um ponto de equilíbrio numa disputa entre os dois.

Mestre em criar pistas falsas, o governador já sinalizou publicamente que deverá permanecer no cargo, o que indica que irá tentar a reeleição. Mas pode não ser exatamente assim. No núcleo hartunguista, há quem considere a hipótese de o governador não disputar Senado nem nada.

Neste caso, quem seria seu ungido? Outro mistério, mas há uma pista deixada pela última interinidade. Quando o governador saiu de férias, em janeiro último, deixou o vice César Colnago (PSDB) no cargo. Antes de passar o comando para o interino, chegou a comentar, meio que na brincadeira: “Um dia ele ainda acaba ficando de vez (no cargo)”.

Aquilo parece ter soado música nos ouvidos do vice, que deixou escapar numa entrevista para A Tribuna: “Se ocupar de vez o cargo de governador, vou disputar a reeleição”. Além de soar precipitado, gerou questionamentos do tipo: “Colnago consegue vencer Rose ou Casagrande?”. Em síntese, a última interinidade não foi bem digerida no chamado “núcleo duro” hartunguista. E gerou ainda outra constatação, a de que o grupo palaciano é extremamente dependente de PH e ainda não tem outro nome à altura para um embate eleitoral conforme se anuncia.

Pretendentes a sucessor não faltam, é verdade. Há uma relação de quase 10 aliados em condições de virar vice numa chapa de reeleição – Erick Musso, Zé Carlinhos da Fonseca, Amaro Neto, Octaciano Neto, Raquel Lessa – etc. Membro da comissão de frente do grupo de PH, o ex-vereador de Vitória e subsecretário da Pesca, Zezito Maio, compara que disputar sem Hartung na cabeça de chapa confiando na vitória é o mesmo que acreditar na história da mulher que se disse “abduzida por ET” na rodovia ES-010, na Serra, na véspera do Carnaval, e que só reapareceu na Quarta-Feira de Cinzas cheirando a cerveja. “Só se deixa enganar quem quer”, filosofa.

Em tempo: pescador nato da Praia do Suá, Zezito arrisca palpite provocante: “PH vem para a reeleição, e acho que Casagrande não vai encarar”. O cenário, porém, todos sabem, assemelha-se a nuvem, muda a todo instante. Ainda mais neste chuvoso verão.