Ex-líder do governo, deputada Joice Hasselmann e o presidente Jair Bolsonaro

Por Tales Faria – O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não tinha ainda votos suficientes para a aprovação de seu nome como embaixador do Brasil nos EUA. Mas não estava longe de obtê-los.

Segundo articuladores políticos do governo ouvidos pela coluna, não foi por acreditar na derrota que Eduardo desistiu da indicação à embaixada. O deputado ainda acreditava que poderia conquistar os votos dos senadores. A recomendação para desistir partiu mesmo de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro.

A nomeação diplomática, antes prioritária, tornou-se secundária diante da disputa pelo controle do Diretório do PSL em São Paulo. Afinal, essa disputa passou a colocar em risco o mandato do próprio presidente.

Tudo começou porque a família Bolsonaro não aceita abrir mão do controle da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro. Isso implica o poder de distribuir cargos, candidaturas e a grana dos fundos partidário e eleitoral nos estados dos três filhos de Bolsonaro.

E a deputada Joice Hasselman (PSL-SP) decidiu que quer concorrer a prefeita da cidade de São Paulo. Se Joice concorre pelo partido e vence, passa a ter poder de tomar definitivamente de Eduardo o controle da sigla no Estado.

A deputada já tinha a vaga de candidata prometida pelo presidente nacional da legenda, deputado Luciano Bivar (PE). Quando Bivar e o presidente Bolsonaro romperam, ela teve que optar por quem lhe garantia  a legenda.

Mas os bolsonaristas demonstraram força contra o grupo de Bivar quando fizeram correr a primeira lista na bancada para destituir o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Joice nunca morreu de amores por Waldir, mas teve que assinar a lista contrária à sua destituição. Não podia ficar longe de Bivar. O choque com o clã Bolsonaro, então, se mostrou inevitável, ameaçando sua candidatura a prefeita.

Na avaliação dos articuladores políticos do presidente da República, foi aí que começou a suposta chantagem.

Frequentadora assídua da cúpula da campanha presidencial de 2018, da equipe de transição de governo e dos primeiros meses da gestão, Joice Hasselman passou a ameaçar o presidente e seus filhos com a revelação de segredos do bolsonarismo.

A deputada virou alvo dos mesmos ataques nas redes sociais que os adversários de Bolsonaro e do governo recebem. Proliferaram memes e fake news xingando-a de gorda e traidora.

Joice, então, soltou o primeiro petardo: disse a Marco Britto, do UOL, que os disparos de fake news partiriam de uma milícia comandada por funcionários dos filhos de Bolsonaro.

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Depois, arrematou na Globo News que eles atuaram até mesmo no gabinete do presidente da República, no Planalto. Se isto for confirmado, a equipe de campanha de Bolsonaro teria cometido crime eleitoral, passível de cassação do mandato.

Para o Planalto, o presidente tornou-se alvo, então, de uma chantagem explícita da ex-líder do governo no Congresso.

Uma chantagem que, por obra e graça do Centrão e da oposição, tomou corpo na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI, envolvendo Câmara e Senado) sobre as fake news.

A própria Joice Hasselman está sendo convidada a depor na CPMI, assim como o ex-líder da bancada Delegado Waldir (GO), que disse que iria implodir o presidente.

Sem esquecer outro que muito viu no Planalto, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da secretaria de Governo da Presidência e um velho amigo que rompeu com o presidente.

Ele foi atacado ferozmente por Carlos Bolsonaro e pelo guru bolsonarista Olavo de Carvalho. Quando pediu ao filho Eduardo que desistisse da embaixada nos EUA, Bolsonaro determinou que o deputado tente, de qualquer maneira, solucionar a questão em São Paulo. Ali é a origem da encrenca e da suposta chantagem,Bolsonaro disse ao filho que pode solucionar a crise passando o trator sobre Joice ou com um acordo entre as diversas alas do PSL.

A estratégia de Eduardo Bolsonaro como líder na Câmara será a mesma do presidente na política em geral: primeiro reunir sua tropa mais fiel. Depois, tentar ampliar seu exército.

Por fim, partir para a guerra em São Paulo. Ou, se já fortalecido, para um acordo. A avaliação é de que a tropa mais fiel do bolsonarismo já está unificada.

Agora é hora de buscar um entendimento com a cúpula do PSL visando suspender a troca de tiros e novas denúncias, por exemplo, na CPMI das Fake News. Depois, se isso não for possível, será a hora de tentar metralhar o inimigo.

Com a cúpula pesselista -leia-se Bivar & Cia- ainda é possível um acordo. Quanto a Joice Hasselman, para Bolsonaro e seus aliados, é um caso perdido.

Fonte: Blogosfera/UOL

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