PEDRO VALLS FEU ROSA

Você quer ir à França? Prepare-se para ser desinfetado. Se o seu destino for a Argentina ou o Chile aguarda-o igualmente uma boa dose de inseticida.

Explico: em função de uma exigência sanitária todo avião que esteja partindo de aeroportos brasileiros rumo a estes países deve ser desinfetado com os passageiros dentro.

Funciona assim: quando o avião tem suas portas fechadas, antes da decolagem, a tripulação abre algumas latas de inseticida e passa pelos corredores desinfetando a tudo e a todos.

As barreiras sanitárias não são ruins – longe de mim criticá-las! Somente me causa espécie a falta de reciprocidade. Sim, quem estiver a embarcar de Santiago, Buenos Aires ou Paris rumo a estas terras tupiniquins não será desinfetado!

O fato é que talvez não estejamos sendo suficientemente cautelosos com a proteção de nossa riquíssima biodiversidade!

Vamos a um exemplo da importância de sermos cautelosos: a Bahia era exportadora de cacau até a chegada de uma praga conhecida como “vassoura de bruxa”.

Hoje somos importadores – um prejuízo de bilhões para o Brasil. Falou-se até em sabotagem! Seja como for, este episódio demonstra a importância de sermos tão prudentes.

O cacau não é nossa única riqueza. Temos a pecuária, uma das melhores e mais saudáveis do planeta. Imaginemos o quanto significaria a introdução, em nosso país, da conhecida “doença da vaca louca”.

Somos também grandes exportadores de frangos. Calcule-se o quanto sofreríamos se a gripe aviária desembarcasse em nossas terras.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estão identificadas na Amazônia legal cerca de 650 espécies de vegetais farmacológicos de valor econômico.

Calcula-se que o Brasil abriga 23% de todas as espécies do globo. Se considerarmos que 40% de todos os medicamentos produzidos têm seus princípios ativos retirados de plantas ou animais surgirá clara a importância de preservarmos esta riqueza certamente única no mundo.

Diante desta realidade com certeza cheiraria bem adotarmos todas as cautelas na área sanitária. Um bom início seria exigirmos a desinfecção das aeronaves que estejam se dirigindo ao nosso país.

Afinal, como proclamou Ralph Cordell, “apesar de todos os avanços da Medicina, lavar as mãos continua sendo a melhor maneira de prevenir uma infecção”.


  • Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO.