Pedro Valls Feu Rosa
Não faz muito tempo li que a Anistia Internacional registrou 690 execuções de condenados em 20 países ao longo de 2018.
Eis a situação atual da pena de morte no mundo. Aqui no Brasil não há tal pena. Somos um país radicalmente cristão.
Enquanto isso, até onde estudei, linchamos quatro suspeitos – sim, meros suspeitos – a cada semana pelas praças e ruas deste pacato país.
São 16 por mês. Dá uns 192 por ano. Há também aqueles cuja prisão foi decretada pelo sistema judiciário – morrem à taxa de quatro por dia pelo país afora. Umas 1.460 pessoas anualmente.
Somei os que matamos fora e dentro das prisões. Cheguei a 1.652 mortes – ou 2,3 vezes o total de executados no planeta inteiro.
Não incluí nesta conta, por questões lógicas, aqueles que morreram em confronto com as forças da lei – limitei-me aos suspeitos linchados e aos presos já sob o controle do Estado. Só isso e nada mais do que isso.
Há, claro, aqueles que ficam vivos. Sobre estes, segundo reportou o relator da Comissão de Direitos Humanos da ONU, paira uma realidade de torturas “endêmica e constante”.
Segundo registrou, são especialmente comuns os choques elétricos, a asfixia, o gás de pimenta e as balas de borracha.
Não nos esqueçamos daquele outro tipo de executados: as vítimas. As pessoas de bem cujo único crime foi vir ao mundo. Elas não são poucas: quase 300 por dia. Ou umas 109.500 por ano. Isto há décadas.
Tradução: trata-se de um quadro sério demais para não ser estudado cientificamente, sem paixões ou ideologias.
Sem “achismos” ou hipocrisia. Mas assim não fazemos. Desde que me entendo como gente permanecemos no ciclo “quanto mais morremos mais matamos – e quanto mais matamos mais morremos”. Até quando?
Fico a pensar se não já passou da hora de superarmos as expressões “Estado assassino”, “defensores de bandidos” e tantas outras que somente tem conseguido erguer muros ao invés de construir pontes.
De, serenamente, buscarmos na ciência soluções reais. Outros países, com sucesso, já trilham este caminho – da prevenção à prisão.
Peço desculpas, porém. Tenho que encerrar por aqui. É hora de ir à igreja rezar. Afinal, cá estamos em um país temente ao Criador – mas que talvez esteja ignorando a prudente advertência de Thomas Jefferson: “eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.
Pedro Valls é jornalista, escritor e desembargador no ES