Uma imagem fala mais do que mil palavras é um desses axiomas que pululam nos verbetes jornalísticos, isso antes mesmo de o ministro do STF Gilmar Mendes, em conluio com os grupos Globo e Folha, ter acabado com o diploma da profissão para provocar, como causou, um profundo achatamento salarial na categoria. Porém, isso é uma outra longa história. Avancemos, pois nem sempre imagens ou palavras reproduzem exatamente a realidade do fato. Nas relações políticas, então, nem sempre vale aquela conhecida máxima do “tal pai, tal filho”.

Dias após o deputado estadual Theodorico Ferraço (DEM) ter discursado na Assembleia Legislativa por 15 minutos criticando o governador Paulo Hartung (PMDB), seu filho, o senador Ricardo Ferraço (PSDB) foi convidado pelo governo estadual para comandar solenidade destinada a explicar alterações no sistema de incentivos fiscais. O gesto do governador convidado o filho de um ex-aliado que agora faz a dança da guerra, pode significar muita coisa ou simplesmente nada. Pode ser um gesto de deferência com um aliado político, a evolução de uma agenda já iniciada, a necessidade de expressar a posição do governo em sintonia com o Senado etc.

Mas para o mercado político que se assustou com o tiroteio de Theodorico Ferraço na direção de PH, isso numa ação reproduzida na Câmara Federal por sua mulher, a deputada Norma Ayub (DEM), o gesto soou como uma forma de explicitar que o governador e o senador se entendem, que nem sempre o filho está de acordo com as atitudes do pai e vice-versa. Se o pai anda mordido com a demissão de servidores aliados, discorda da “intromissão” do governador no comando do DEM, seu partido, e parece não ter digerido até agora a sua não reeleição, pela terceira vez, na presidência da Assembleia Legislativa, o senador tem que cuidar do seu futuro político. E esse futuro político longe de PH pode ser como um satélite que perde o astro.

É preciso considerar ainda a longa relação de parceria política existente entre PH e o senador Ricardo Ferraço. Nem aquele episódio conhecido como “abril despedaçado”, registrado em 2010, conseguiu afastá-los, embora tenha gerado ressentimentos. Também não foi para menos. Naquela ocasião, Ricardo era vice-governador, PH já havia sido reeleito e tudo indicava que iria abraçar a candidatura do filho de Theodorico para sua sucessão.

Porém, Lula à frente do governo federal, e o PT, aliado de PH, pressionaram para colocar na fita o senador Renato Casagrande (PSB), para facilitar aliança nacional com o PSB. Havia ainda a pulsação interna, com Casagrande ascendendo ameaçadoramente nas pesquisas. A certa altura, temia-se que PH bancasse Ricardo e o levasse para um confronto de alto risco nas urnas com Casagrande.

Pois numa daquelas tardes de abril, o governador convocou uma coletiva num hotel da orla de Camburi e ali surpreendeu a todos. PH sentou-se na mesa, ladeado por Ricardo e Casagrande e, cercado de microfones e holofotes, meio sem jeito, e sem muitos rodeios, anunciou que iria apoiar Casagrande para governador, enquanto seu vice disputaria o Senado. Ricardo saiu dali abatido, PH constrangido, enquanto Casagrande não conseguia esconder a euforia. Theodorico, o pai, falou cobras e lagartos do acordo, isso nos bastidores, mas silenciou publicamente. Passado o impacto, deve ter avaliado que o acordo não era tão ruim assim, praticamente garantia uma cadeira do Senado para o filho.

Ricardo conquistou o mandato que expira no próximo ano e, para renová-lo, não será fácil. Sem o apoio de PH, então, vai ficar muito mais difícil. Além do mais, é preciso levar em conta que, com ou sem o endosso do pai, Ricardo é o único dos três senadores da cota direta do governador, e com quem tem maior interlocução. Já Rose de Freitas (PMDB) e Magno Malta (PR) são aliados circunstanciais, esporádicos, têm carreiras descoladas de PH. Então, é até compreensível que Ricardo siga na companhia do governador enquanto seu pai se distancia batendo tambores de guerra. E até onde Theodorico seguirá nessa marcha, ninguém sabe.