Recentemente, o secretário municipal de Educação de uma importante cidade falou que se sentia como encarregado da segurança escolar, dedicando parte de seu tempo para assegurar o funcionamento de suas escolas, ameaçado pela violência.

No momento em que dizia isso, ele estava para decidir o fechamento de uma de suas melhores creches, por causa da ameaça de balas perdidas, tráfico de drogas e assaltos.

Sua cidade não é a única. Oitenta e três por cento dos alunos do ensino médio consideram que a segurança é o maior problema de sua escola.

Um país que não consegue assegurar o funcionamento de suas escolas é um país em decadência: não conseguirá formar a inteligência que o mundo necessita para enfrentar os desafios do século XXI.

A decadência se mostra também dentro da escola, mesmo quando ela consegue funcionar apesar da violência no seu exterior.

Na atual civilização baseada no conhecimento, não será possível um país evoluir se cerca de 13 milhões de pessoas (8% da população adulta) são analfabetas, incapazes de ler até mesmo o lema “Ordem e Progresso” escrito em sua bandeira; se mais de 26 milhões (18%) de adultos são analfabetos funcionais; se o acesso à educação de qualidade for um privilégio para as poucas famílias que podem pagar por uma boa escola.

O desprezo aos cérebros da nossa população é um claro indicador de que marchamos para uma decadência civilizatória.

A decadência está também sob os olhos do observador que percebe a falta de sentimento coletivo de nação, transformando o país em uma soma de grupos corporativos que disputam entre eles, da maneira mais egoísta possível, para apropriar-se dos recursos e produtos nacionais.

É ainda mais visível a degradação pela corrupção, tanto no roubo do dinheiro público por políticos para ser utilizado em benefício pessoal quanto no desvio de dinheiro pela corrupção nas prioridades que beneficiam apenas pequenas parcelas da população.

A irracionalidade política é outra manifestação e causa de decadência: políticos, artistas, estudantes, filósofos e profissionais agem e reagem baseados em posições políticas passionais, sem compromissos com a lógica, como aconteceu em países nos quais a decadência decorre de disputas sectárias, cujo melhor exemplo hoje é a Síria.

Fecham os olhos para a lógica da mesma maneira que fecham os olhos para não ver o declínio que suas ações provocam. E não percebem que a derrocada surge com a falta de coesão social no presente e de comprometimento histórico com o futuro.

Não precisa muita perspicácia nem análises sociológicas para perceber que estamos em um processo de decadência histórica, que pode nos levar a uma desagregação social e à condenação ao atraso em relação ao resto do mundo, talvez por décadas no futuro.

*Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e Senador pelo PPS-DF