BRASÍLIA – AGÊNCIA CONGRESSO – Há quase duas semanas o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), usou suas redes sociais para atacar medidas adotadas pelo governo do presidente Michel Temer.
O objetivo do ex-presidente do Congresso foi de ir ao encontro dos anseios de seu eleitorado em Alagoas que rejeitam a reforma da Previdência e a recente a lei sancionada que terceiriza toda e qualquer atividade profissional.
Iniciativas como a de Renan de se manifestar pelas mídias sociais se tornaram usuais, comuns e necessárias a maioria dos políticos.
Não só no Brasil. Em todo mundo essa forma de divulgação passou a ser adotada.
Inclusive, foi fundamental nas três últimas eleições da maior democracia do mundo com as vitórias de Barack Obama em 2008 e 2012 e de Donald Trump em 2016 para a presidência dos Estados Unidos.
Especialistas
Para entender o uso cada vez maior por parte dos políticos nas plataformas digitais de relacionamentos pessoais, a AGENCIA CONGRESSO foi ouvir especialistas da ciência política, da comunicação, do marketing e da filosofia para abordar o tema.
De acordo com o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Kramer, as mídias sociais são rápidas na disseminação de informações e de conhecimentos relevantes e úteis, mas também o são, infelizmente, na propagação de mentiras.
“Seja como for, elas empoderam os representados vis-à-vis dos representantes, fiscalizando, cobrando e, muitas vezes, intimidando”, avaliou.
Segundo ele, “a maioria dos políticos brasileiros não sabe utilizá-las, nem aproveita o seu imenso potencial de comunicação, pois eles continuam com uma cabeça analógica em plena era digital”.
“Portanto, em vez do diálogo, quase sempre o que ocorre são monólogos paralelos. Barack Obama e, agora, Donald Trump, ao contrário, tiram grande proveito dessas mídias”, finalizou o professor da UnB.
Feedback
Para o jornalista Evandro Carvalho, editor do jornal O Vale da Eletrônica de Santa Rita
do Sapucaí (MG), e especialista em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica
(PUC) de MG, o uso pelos políticos destas ferramentas decorre principalmente do
retorno imediato que elas dão.
De acordo com ele, anteriormente às redes sociais o relacionamento da classe política
com a mídia se dava através dos meios tradicionais como os jornais impressos, as rádios e a televisão.
“Esses três meios ou mídias convencionais não permitiam até então um feedback direto com o público, com a população, com os telespectadores, com aqueles que ouviam as rádios e com os leitores de jornais”, salienta.
“Não havia essa interação. A primeira revolução neste aspecto que permitiu esse feedback, esse retorno ainda que rudimentar, foi o advento do controle remoto da televisão. Porque foi através dele que as emissoras descobriram o quanto elas eram assistidas, ou não”, complementou.
“Daí em diante criou-se os hábitos das mídias sociais. Veio a internet, vieram as facilidades de comunicação e, agora, recentemente as mídias sociais.
Principalmente facebook e twitter encabeçando elas”, continuou.
Segundo Evandro, as redes sociais permitiram o contato mais próximo entre todos, inclusive, com os políticos. “Um contato mais direto, sem intermediários. Então neste aspecto isso é sem dúvidas um avanço”, completou.
“A participação das pessoas e dos cidadãos nas mídias sociais fazendo-se presente, existindo, dizendo aos seus representantes: ‘estamos aqui, votamos em você e queremos ver o seu trabalho’, é muito importante”, avaliou.
“E os políticos precisam ter mecanismos para responder essa demanda com departamentos de comunicação exclusivos para esse tipo de tratamento e relacionamento com as pessoas”, pontuou.
“Então as manifestações das pessoas pelas mídias sociais tem hoje um peso igual ao que saem dos jornais, da televisão ou rádio. Isso quer dizer que é fundamental esse relacionamento nas mídias sociais”, finalizou.
Caráter dúbio
Entretanto, para a assessora parlamentar de um importante deputado federal do PT que é muito atuante nas redes sociais, essas mídias possuem um “viés dúbio” para os políticos que as utilizam.
“Ao mesmo tempo que abrem espaço positivo para debate e para divulgação de seu posicionamento, atuação, bandeiras políticas, também abrem espaço negativo para críticas, xingamentos e escrachos”, lamentou.
“Uma vez aberto este meio de comunicação, é exigido por todos aqueles que o utilizam uma atuação sempre presente, seja opinando sobre os assuntos ou respondendo comentários e mensagens”, avaliou.
“Estar presente é fundamental. Esta ferramenta é poderosa por ter a possibilidade de um alcance em massa, e exige tempo e atenção. Se bem manejada, pode trazer grandes ganhos. Se mal utilizada, está fadada ao desaparecimento em meio ao dilúvio informacional que inunda as redes todos os dias”, complementou.
Na rede
Já para o deputado federal Bilac Pinto (PR-MG) o uso das redes sociais como mecanismo de divulgação parlamentar decorre da constante e crescente popularização de smartphones, internet sem fio, entre outras tecnologias que permitem a todos estarem conectados 24 horas por dia.
“Agora somos capazes de obter informações, notícias e artigos, praticamente em tempo real, acessando as redes sociais e websites diversas vezes ao longo do dia, alimentando, assim, nossa necessidade de nos mantermos sempre atualizados”, comentou.
“Eu vejo as redes sociais como uma extraordinária plataforma de divulgação, caso seja utilizada de maneira correta, divulgando somente conteúdos verídicos, os quais respeitam o ponto de vista e a opinião alheios”, concluiu.
Por Humberto Azevedo