Por Pedro Valls Feu Rosa

Há algum tempo li, na respeitada BBC, séria notícia que deveria ser objeto de reflexão por cada brasileiro. Principalmente por aqueles que habitam um tal de “universo institucional”.

A matéria expõe que “um levantamento inédito – obtido pela BBC News Brasil – que integra o Mapa de Conflitos de Mineração 2020, mostra que as mineradoras estrangeiras, a maioria de países ricos com rígidas regras ambientais e trabalhistas, são pivôs da maior parte das disputas e acusações envolvendo populações vulneráveis no Brasil”.

Detalhou-se que “essas gigantes internacionais são apontadas como “violadoras” em 48,7% dos conflitos ocorridos no ano passado, enquanto empresas nacionais responderam por 23,8% e o garimpo ilegal por 19,4%”.

A reportagem – longa – cita, então, casos vários. Todos de extrema gravidade. E lança a discussão sobre se nos países de origem das transnacionais mencionadas seria possível um quadro como o verificado aqui no Brasil.

Veio-me à memória singular artigo publicado pelo conceituado jornalista Elio Gaspari nos idos de 2007, intitulado “Os laboratórios e a clientela de babuínos”.

Tratava das diferenças entre as indenizações pagas nos EUA e aqui a consumidores vítimas de medicamentos impróprios para consumo. Transcrevo seu último parágrafo: “Colecionando derrotas, o laboratório ofereceu um acordo a 47 mil vítimas (nos EUA).

Custará US$ 4,85 bilhões. Em Pindorama, a responsabilidade social da empresa levou-a a informar à freguesia que estava pronta para reembolsá-la, no exato valor pago pelas caixinhas do remédio (R$ 21 a R$ 81, dependendo da dose)”.

Lembrei-me de outros três episódios: uma grande empresa norte-americana viu-se obrigada a indenizar em uns R$ 7,5 mil uma chilena que quebrou dois dentes ao comer um sanduíche com um pedaço de broca dentro.

Talvez mais dolorosa tenha sido a experiência de uma estudante chinesa, mordida por um rato dentro de uma lanchonete desta mesma empresa. Determinou-se que, por conta do ataque deste intrépido roedor, a chinesa deveria ser indenizada em uns R$ 550. 

Enquanto estes graves episódios aconteciam no Chile e na China um cachorro norte-americano ganhou uns US$ 20 mil de indenização por danos morais ao ter tido a ponta de seu dente quebrada durante uma consulta veterinária realizada na California. 

Pois é.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO