BRASÍLIA – Ao menos nove personagens que estiveram em evidência durante a greve da Polícia Militar que comprometeu a segurança no Espírito Santo durante 21 dias, em fevereiro do ano passado, terão seus nomes nas urnas nas eleições deste ano.

Sete são PMs associados ao protesto em que mulheres obstruíram os portões de unidades de polícia impedindo a saída para patrulha. A reivindicação de aumento salarial não foi atendida.

Os sete policiais candidatos respondem a investigações —cinco foram presos e um excluído. O PSL, de Jair Bolsonaro tem quatro desses nomes.

O coronel Carlos Alberto Foresti, que foi preso acusado de apoiar a greve em áudios e vídeos na internet, chegou a percorrer o estado como pré-candidato a governador, mas foi substituído na última hora pelo deputado Carlos Manato (PSL).

Foresti migrou para o PHS e se lançou candidato a deputado federal. A polícia já decidiu pela sua demissão, mas o processo ainda precisa ser validado pela Justiça.

Foresti, que comandava o Centro de Operações da PM, é acusado por incitar a desobediência, organização criminosa e fazer críticas.

Sua defesa diz que ele não incentivou a greve, apenas mostrou revolta pelo risco que os policiais corriam.

A mesma ordem de prisão de Foresti, ainda em fevereiro, foi expedida para dois candidatos do PSL já veteranos em eleições, também acusados de organização criminosa e incitação.

O capitão Lucínio de Assumção (PSL), ex-deputado federal aliado de Bolsonaro, que disputa a Assembleia, e o sargento Aurélio Robson (PSL), que concorre como suplente ao Senado.

O partido terá ainda dois novatos nas urnas para deputado estadual: os coronéis Rogério Lima e Alexandre Quintino.

Rogério era presidente da associação de policiais oficiais, uma das entidades que participou da negociação para o fim da greve. Hoje responde a procedimentos administrativos na PM por críticas ao governo e por defender anistia.

Quintino era comandante da região sul e, na época, deu uma entrevista na TV dizendo que o movimento era “legítimo e necessário”, pois os policiais estavam “passando necessidade”.

Responde a um processo administrativo na PM, que pode culminar em exclusão, e a um processo judicial por crime militar.

Já para o soldado Nero Walker (PP), as consequências da greve chegaram a colocar sua candidatura em risco. Nero foi preso por mais de nove meses acusado de incitar o movimento, por ter gravado um vídeo do lado de fora de um batalhão mostrando que a obstrução permanecia.

Ele é um dos 23 policiais excluídos da corporação após a greve e também responde a processos judiciais. Teve a candidatura à Assembleia indeferida com base na Lei da Ficha Limpa, mas recorreu.

O quinto policial preso a concorrer, também pela primeira vez e a uma cadeira no Legislativo estadual, é o sargento Ronaldo Trugilho (PSB), o Trugilho do Colete.

O episódio que inspirou seu nome de urna foi precursor da greve e evidenciou precariedade na PM: em dezembro de 2016, se recusou a revezar um colete a prova de balas, pois queria mantê-lo no caminho até sua casa, após o fim do turno.

O secretário de Segurança à época, André Garcia (MDB), concorre a deputado estadual.

Os candidatos avaliam que não tiveram ganho eleitoral com a greve, mas acusaram os demais de tentar surfar nela.

“Não estou concorrendo por causa de greve, tenho uma história como secretário. Mas sei que muitos usaram isso para se viabilizar. Grande parte dos que estavam fomentando são candidatos”, disse Garcia.

Nero se considera perseguido e diz que a greve poderia ter sido evitada com aumento. “Não acho correto que o governo tenha permitido que isso acontecesse”, afirma.

“Há perseguição e retaliação, sou vítima disso”, diz Rogério. O coronel afirma que o clima está ruim na PM.

“Fui sondado por vários partidos para tentar dar voz aos militares. Estou no PSL porque a bandeira da segurança pública é mais clara.”

Quintino afirma que se candidatou atendendo a pedidos de colegas. “Tem a ver com a liderança do meu trabalho durante 30 anos de polícia, não por causa de greve”, disse.

Trugilho diz que sua prisão foi uma injustiça e que o estado foi negligente por não ter coletes suficientes.

O sub tenente Assis disputa o Senado na chapa de Manato (foto arquivo Agência Congresso).

Com informações da Folha