O ciberataque de deixar qualquer um fora do ar não partiu dos hackers, mas eclodiu em Londres, nas palavras do ministro do STF Luiz Roberto Barroso, durante o evento Brazil Forum.
Ele lacrou que o Brasil é um país de “ricos delinquentes por causa da impunidade”. E relacionou outras anomalias do patropi, como a alta carga tributária, a complexa legislação trabalhista, o Estado perdulário, o chamado “custo Brasil” resultante da corrupção e do “jeitinho” desde tempos imemoriais.
Citou também a reforma da Previdência, em andamento, comparando que os 32 milhões de aposentados da iniciativa privada hoje custam o mesmo que um milhão de aposentados do poder público.
“Quando vejo um pobre reclamando da reforma, fico com pena”, disse.
O que o ministro não abordou foi que até hoje ninguém sabe ao certo até onde vai essa reforma no tocante ao funcionalismo público, que inicialmente a União tentou repassar o pepino para os Estados, nem em relação a outros setores privilegiados com gordas aposentadorias e pensões.
Mas já ficou de bom tamanho um ministro, mesmo que seja para inglês ver, destacar em alto e bom som que os ricos daqui diferem pela tendência delinquente, geralmente originada nas relações com o poder público.
Tá bom, ninguém fica rico ou constrói império, em nenhuma parte do mundo, seguindo um manual franciscano de boas ações.
A propósito, também da Inglaterra surge a informação que vem por aí uma biografia de Paul McCartney, escrita por Philip Norman, que arranha a imagem de bom moço do ex-Beatle.
Entre outras, assegura que ele é “avarento, rancoroso e cruel”.
Por sinal, características comuns de ricos e famosos do mundo afora.
O que nós temos de diferença em relação aos ricos de outros lugares está em boa parte institucionalizado na relação promíscua entre poder público e iniciativa privada, sedimentada após a volta das eleições diretas na década de 1980.
Nesse aspecto, vale recapitular observações feitas pelo colunista José Padilha, O Globo, esmiuçando aquilo que classifica como “Mecanismo de Exploração da Sociedade Brasileira”, uma prática que junta lideranças, partidos políticos, governo e autoridades.
Para início de conversa, esqueça qualquer tipo de ideologia ou pudor.
– No Executivo, o Mecanismo se dá pela via do superfaturamento de obras e serviços, no Legislativo opera na formulação de legislações que dão vantagens indevidas a grupos empresariais disposto a pagar por elas.
– Políticos que não aderem ao Mecanismo têm poucos recursos para campanha e raramente são eleitos ou reeleitos, pois o sistema elimina os que têm valores incompatíveis com a corrupção, assim como impõe uma barreira para entrada de pessoas inteligentes e honestas na política nacional.
– A grande maioria dos políticos tem baixos padrões morais e éticos. Já a eficiência e transparências estão em contradição com o Mecanismo.
Mas não pode deixar o estado falir, pois aí todos vão junto para o buraco. Daí, estamos sujeito à repetição do ciclo de crescimento baixo na economia, seguido de crise fiscal e ajustes para conter gastos públicos.
– Como as leis são feitas por legisladores corruptos e os magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo Mecanismo, é natural que tanto a lei quanto magistrados das instâncias superiores tendam a ser lenientes com a corrupção.
– A Lava a Jato só foi possível por uma conjunção improvável de fatores: governo incompetente e fragilizado pela crise econômica que causou, associado a uma bobeada do Parlamento, que não percebeu que a legislação que operacionalizou a delação
premiada era incompatível com o Mecanismo.
– Não é certo que a Lava a Jato vai promover o desmonte do Mecanismo, uma vez que as forças políticas e jurídicas contrárias são significativas.
Dessa forma, é bom desconfiar dos reais objetivos de ações empresariais levadas a termo juntamente com o estado, aqui, ali, em todo lugar.
Costumam ser ações maquiadas por expressões edificantes como “sustentabilidade”, “agregar”, “parceria”.
Em tempo: a Lava a Jato colocou lupa no projeto de implantação de um terminal da Petrobras em Barra do Riacho, Aracruz, pois o TCU classificou de “temerária” a gestão da obra.