Em meio à precoce e desenfreada “volta à normalidade” que estamos assistindo, a reabertura das escolas e o retorno às aulas presenciais ocorrerão em questão de semanas.

A avidez por voltar a uma normalidade que não existe mais é tanta que acabaremos por prolongar nossa adaptação ao chamado “novo normal”.

É quando a falta de controle faz com que nos engasguemos com a quantidade de comida e continuemos com fome. Diante de tudo isso teremos que administrar uma aparentemente precoce volta às aulas.

Os desafios ligados a essa volta são, basicamente, de três naturezas. O primeiro refere-se à adaptação das rotinas tradicionais da escola como hora da entrada, subdivisão do recreio, diferenciação na hora de saída, alteração dos horários de aula, atividades remotas paralelas às atividades presenciais, replanejamento curricular etc.

O segundo tipo de desafio está ligado à gestão das novas rotinas sanitárias como higienização em diversos momentos, verificação do uso e definição de hora para troca de máscaras de professores e alunos e manutenção da distância mínima entre as pessoas, em especial entre os alunos.

Por fim, o terceiro desafio diz respeito à gestão das contingências como a ausência de professores, funcionários e alunos do grupo de risco, garantia dos recursos financeiros para que não falte álcool em gel, sabão, desinfetante, máscaras descartáveis para situações inesperadas etc.

Não estamos aqui elencando os desafios de ordem psicossocial, como o acolhimento e encaminhamento de situações de traumas de alunos e professores adquiridos durante o período de isolamento e as ações para evitar o aumento da evasão causada pelo descrédito dos pais na efetividade do ano letivo de 2020 e pela necessidade de algumas crianças e adolescentes começarem a trabalhar em função da enorme recessão econômica que assolará o Brasil e o mundo.

Esses desafios evidenciarão a impossibilidade de a escola resolvê-los sozinha e a necessidade da ação interinstitucional. Secretarias de Educação, de Saúde, de Ação Social, Ministério Público e Conselho Tutelar compõem a configuração mínima para que a escola consiga dar conta desses desafios.

Não voltaremos as mesmas pessoas, muito menos para a mesma escola. Essa volta não pode acontecer da forma súbita como aconteceu a paralisação das aulas. As escolas precisam planejar desde já o retorno, uma vez que o sucesso dele depende de conscientização, de compromisso e de recursos.

A consciência é fruto do diálogo que deve ser instituído imediatamente, visando dar ao processo o tom coletivo que ele exige. O compromisso é fruto da consciência do papel de cada um na preservação da vida e da saúde em meio à prática profissional nesse “novo contexto normal”.

Finalmente, garantir os recursos necessários para a efetividade da volta às aulas é papel das prefeituras, dos governos estaduais e do governo federal. No caso das escolas particulares esse papel é da gestão e dos mantenedores. Sem essas garantias, é melhor continuar aprendendo a distância.

O autor é Pedagogo, Psicopedagogo, Doutor em Ciências da Educação e Mestre em Educação