BRASÍLIA – No projeto do governo Bolsonaro para o orçamento do ano que vem, os gastos com a Defesa são maiores que os com a Educação.

Com forte poder de decisão nas mãos de militares – o chefe da Casa Civil é general – o governo tende a priorizar as forças armadas em detrimento da saúde, educação, áreas  muito mais importantes.

O Ministério da Economia está negociando com os demais ministérios o valor que cada área terá para gastar no ano que vem.

O jornal “O Estado de São Paulo” teve acesso à proposta e mostrou que o Ministério da Defesa deve ter mais dinheiro do que a Educação em 2021.

O Ministério da Economia informou que os números do ano que vem ainda não estão fechados.

Mas uma análise dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro mostra que não seria a primeira vez que a Defesa teria prioridade quando se leva em conta apenas os investimentos do governo, sem considerar salários e o custeio de cada área.

Em 2019, pela primeira vez em 16 anos, o Ministério da Defesa teve o maior orçamento da Esplanada para investimento em obras e compras de equipamentos, por exemplo.

Foram R$ 8,3 bilhões no primeiro ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro – orçamento mais alto do que a soma dos investimentos em saúde e educação, que totalizaram R$ 7,5 bilhões.

Até julho deste ano, a Defesa também tinha previsão de investimento superior aos valores destinados à Educação e Saúde, apesar da pandemia da Covid-19.

CONGRESSO

 

O governo terá que enviar o Orçamento de 2021 ao Congresso até o fim do mês. Caberá a deputados e senadores discutir e aprovar os números.

Especialistas alertam que o ano que vem será especialmente importante para o Brasil priorizar os investimentos e reparar as perdas com a qualidade do ensino e com a saúde, por causa dos efeitos da pandemia.

“O investimento na Saúde e na Educação tem que ser uma prioridade. Nós estamos falando em construção de escolas, de creches, de hospitais, de compra de equipamentos – tanto para escolas quanto para os postos de saúde. Então é claro que esses investimentos nesse momento, inclusive nessa fase que estamos saindo da pandemia, são prioridades em relação aos investimentos com equipamentos militares”, diz Gil Castello Branco, da Associação Contas Abertas.

“Com a pandemia que a gente está vivendo agora, que afeta brutalmente a educação básica no país, a gente precisa ter mais investimentos para essa recuperação da Educação, e que tem muito a ver com a recuperação do país. Não tem como o Brasil se recuperar de todas as crises que são decorrentes dessa pandemia se a gente não priorizar a Educação”, afirma a presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.

No primeiro ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro também aumentou os gastos com investimentos e custeio da máquina para a área de Defesa e reduziu as despesas para a Educação, Saúde, e Segurança.

O resultado final das contas do governo federal, divulgado pelo Tesouro, mostrou um aumento real (acima da inflação) de 22,1% das despesas da Defesa em relação a 2018. Um incremento de R$ 4,2 bilhões de um ano para o outro.

Na direção oposta, os gastos com Educação caíram 16% e Saúde teve uma queda de 4,3%. Os investimentos para a área de segurança minguaram 4,1%.

Com informações do Estadão