João Miguel Feu Rosa*

Dia desses li sobre a inauguração, na Suíça, do túnel de São Gotardo. Trata-se do mais longo e profundo túnel ferroviário do planeta, construído sob os Alpes. Passageiros e cargas percorrerão seus 57,1 km a bordo de modernos trens, e a até 250 km/h.

Além da engenharia, porém, há nesta obra algo não menos digno de profunda reflexão, qual o seu processo de realização. Vejam que uma obra tão complexa foi realizada rigorosamente dentro do prazo e do orçamento previstos, e ao longo de cinco governos!

Foi assim que os suíços mostraram ao mundo, após US$ 12,5 bilhões investidos de forma calculada e responsável ao longo de 17 anos de trabalhos ininterruptos, o que planejamento e boa gestão pública podem realizar por um país.

A Suíça é um país pobre, desprovido de riquezas minerais básicas, tais como petróleo, ouro, minério de ferro etc. Aliás, até de espaço carece aquele pequeno país.

No entanto, valendo-se de inteligência e sabedoria, são um dos grandes exportadores de café do planeta – sem que lá exista um único pé. Vendem pelos quatro cantos do mundo chocolate da melhor qualidade – e desconheço a existência de uma única plantação de cacau naquelas bandas.

Seus utensílios de aço encantam a raça humana, apesar de não extraírem de seu solo um grama de minério de ferro que seja.

Enquanto isso, o nosso rico país perde em torno de US$ 42 bilhões a cada ano somente por conta de sua péssima infraestrutura – o equivalente a mais de três túneis de São Gotardo!

Nas últimas décadas investimos, em média, 2,2% do PIB em infraestrutura, contra uma média mundial de 3,8%. Na China, chegou-se a 8,5%, e na Índia a 4,7%.

Mas nós não nos limitamos a investir pouco – também investimos mal. Não faz muito tempo o Tribunal de Contas da União identificou 400 obras paralisadas após terem consumido R$ 2 bilhões dos cofres públicos.

A maior parte destas obras inacabadas é relativa a rodovias, projetos de saneamento e infraestrutura urbana. Informou-se, ainda, que o prejuízo pode ser muito maior, pois não foram incluídos no estudo todos os ministérios, e bem assim aquelas obras irrecuperáveis.

E lá se vão nossos trens, sacolejando a ridículos 20 km/h sobre ferrovias construídas por D. Pedro II, em um ritmo incompreensível, capaz de dar inveja aos confusos escritos do tcheco Franz Kafka.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO

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