Dia desses li que no não tão distante ano de 2014 nada menos que 207.400 pessoas perderam a vida por conta de problemas relacionados ao consumo de drogas ilícitas.
Eis aí, seguramente, uma tragédia comentada intensa e extensamente pelo planeta afora. Por conta disso, o melhor dos nossos aparelhos policial e judicial foi entregue à nobre missão de reprimir o consumo e o tráfico de drogas ilícitas.
Idêntica missão foi conferida aos militares norte-americanos que ocupam inúmeras bases aqui na América do Sul, praticamente cercando a Amazônia brasileira.
Desta crise – a das drogas ilícitas – ocupa-se de forma destacada a imprensa mundial – basta abrir-se um jornal ou uma revista para constatar-se o imenso espaço que lhe é dedicado. Enquanto isso, nos idos de 2010, a ONU divulgou que o consumo de álcool é responsável por 2,5 milhões de mortes a cada ano. Constatou-se, ainda, que ele está relacionado a nada menos que 25% dos casos de homicídio. É curioso, isso: o álcool, sozinho, ceifa doze vezes mais vidas que as drogas ilícitas, e pouco se fala nisso! Aliás, eis aí um assunto que, ressalvado um ou outro artigo científico, praticamente não é comentado. Por que será? Há também o cigarro. A cada seis segundos morre alguém por conta dele. Faça uma experiência: conte até seis. Um, dois, três, quatro, cinco, seis – morreu outro semelhante seu! A cada ano, são seis milhões de mortes. E não sei de nenhuma tropa armada ou aparelho legal enfrentando esta praga! Fiquei ainda mais intrigado ao ler, há alguns dias, que à poluição atmosférica, isoladamente considerada, são atribuídas inacreditáveis 6,5 milhões de mortes a cada ano!São 31 vezes mais óbitos que aqueles derivados do consumo de drogas ilícitas, 2,6 vezes mais que aqueles oriundos da ingestão de álcool, e bem mais que os derivados do hábito de fumar.
Também aqui, surpreende o fato de que, à exceção de algumas poucas reportagens de caráter científico, a poluição do ar não tem ensejado reação praticamente alguma! Apesar de suas causas serem conhecidas e já terem sido até mesmo identificadas, não temos notícia de grandes movimentações a respeito.Aliás, quando movimentam-se as autoridades, logo recebem o título de “afoitas” e tudo acaba dando em nada, sob o silêncio de todas as vítimas – digo, de toda a população. Por que será?
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO
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