Por Pedro V. Feu Rosa

Não faz muito tempo li uma muito séria reportagem da BBC sobre o uso da América Latina – Brasil incluído – como um reles “lixão”. Seguem alguns trechos.

“Segundo dados da Last Beach Cleanup, organização ambientalista sediada na Califórnia, até outubro [de 2021] os EUA haviam enviado mais de 89.824.167 kg de resíduos plásticos para os países da região”.

“O principal destino das exportações de resíduos plásticos é o México, que de janeiro a outubro de 2021 recebeu cerca de 60.503.460 kg, o que equivale a cerca de 57 contêineres por dia.

No entanto, toneladas de lixo também foram enviadas para Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Honduras, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e até Venezuela”.

“No Brasil houve uma queda na quantidade de lixo enviada dos EUA, segundo o relatório da Last Beach Cleanup foram 481 toneladas nos primeiros dez meses de 2021 contra 1,7 mil toneladas em todo o ano de 2000”.

“A principal razão das exportações”, segundo Jan Dell, engenheira ambiental, “é porque é mais fácil (e mais barato) para as empresas americanas enviar o lixo para outros países do que processá-lo e ter que lidar com as regulamentações ambientais americanas”.

Disse, ainda: “O que os estudos mostram é que, na realidade, mais de 50% do lixo plástico que chegam não pode ser processado, porque está contaminado. Então, acaba sendo enterrado, abandonado em córregos, rios ou aterros”.

“De acordo com María Fernanda Solís, especialista em questões ambientais da Universidade Andina Simón Bolívar, no Equador, existem mecanismos, brechas e buracos negros legais para permitir que esses resíduos continuem entrando, apesar de esses países serem signatários de acordos internacionais e, portanto, a entrada desses resíduos constituir uma violação” a estes.

“Segundo a acadêmica a pesquisa realizada mostra que uma das formas como isso ocorre é que, geralmente, quando esse resíduo é importado, é feito com o rótulo “matéria-prima”, o que, segundo ela, é uma forma para “disfarçar” o conteúdo”.

Pois é. Quando criança me ensinaram que o rico Brasil é o “florão da América”. Estaria virando, agora, o “lixão” da América? Será este o legado de nossa geração? O país que entregaremos aos nossos jovens? Que a História nos seja misericordiosa!


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO