Não sabendo que era impossível, foi lá e fez. Esta reflexão, atribuída a Jean Cocteau, bem poderia ser objeto de maior atenção no Brasil dos nossos dias. Mas lancemos, antes, um olhar ao passado.

Conta-se que nos idos de 1958 o então presidente da IBM Corporation, Thomas J. Watson, decretou que “há no mundo mercado para cerca de cinco computadores, e não mais”. Alguns não acreditaram nele e revolucionaram o planeta.

Lord Kelvin, o famoso físico e matemático, exclamou que “máquinas de voar mais pesadas que o ar são impossíveis”. Felizmente nem todos sabiam disso quando da criação do avião.

Vamos a outro episódio pitoresco: em 1899 uma edição da revista norte-americana “The Literary Digest” proclamou que “carros jamais seriam de uso comum”. Também aqui algumas pessoas, não sabendo que era impossível, transformaram o mundo.

Contemple, agora, o passado recente. Quem diria ser possível que a criação de dois rapazes em uma garagem da California seria a semente da qual brotaria a Apple, uma das maiores empresas do mundo, com faturamento superior a países inteiros? Impossível, não? Pois é. Só que eles não sabiam disso!

Escrevo estas linhas para realçar o potencial humano. Para destacar que o mundo de hoje gravita mais em torno de idéias que de matéria. Favorece mais as criações que o extrativismo. Recompensa mais a pesquisa que o trabalho mecânico.

Admiráveis novas fronteiras descortinam-se perante a humanidade. As tecnologias do grafeno, da geração de energia elétrica a partir da luz solar, a supercondutividade em temperatura ambiente e tantas outras nos prometem… o impossível!

Atenta ao momento a União Europeia investe, hoje, 3,5% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento. Os EUA, 2,7%. A China, 2,5%. A Coreia do Sul mais de 4%.

E o Brasil, historicamente, menos de 1%. Tradução: passamos o tempo a esperar o dia de pagarmos pelo uso das criações de outros povos. Simples assim.

Na esteira desta tão histórica como míope política vamos perdendo o que de mais precioso temos: nossos melhores cérebros! Desiludidos, começam a emigrar. A buscar no exterior o apoio que aqui não encontram.

É uma pena que seja assim. Somos um dos povos mais criativos do mundo. Donos de um potencial único. Afinal, como exclamou Câmara Cascudo, “o melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve semanalmente para a AGENCIA CONGRESSO.