BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – Mês passado o Cade reabriu a novela da fusão Garoto-Nestlé, que já dura quase duas décadas. Por que é tão difícil resolver o problema?

A quem interessa não concluir a fusão? Política e interesses de advogados tem contribuído para adiar a solução final.

Em março de 2002, a Nestlé anunciou na Suíça a compra da fabricante brasileira de chocolates Garoto, localizada no bairro da Glória, Vila Velha (ES).

Foi a grande novidade na apresentação de seu balanço anual. Mas quase duas décadas depois, o negócio de US$ 566 milhões segue inconcluso.

A Nestlé é dona da Garoto, mas está proibida de fundir as operações. Fábricas, funcionários e marcas seguem separados.

Em 2004, a compra foi vetada pelo Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico). Seguiram-se recursos ao próprio órgão e à Justiça.

Em 21 de junho de 2021, o então presidente do Cade, Alexandre Barreto, decidiu reabrir a avaliação da compra 3 dias antes de deixar o cargo. A decisão foi criticada por outros conselheiros.

Para a Nestlé, a reabertura do caso é vista como a chance de encerrar a longa espera e poder integrar a Garoto à sua estrutura. Mas a decisão do Cade foi vista reservadamente com desconfiança.

Em 19 anos, o mercado de chocolates mudou muito no Brasil e no mundo. Aqui aumentou a concorrência. Nos EUA cresceu a resistência a comprar tudo o que inclui açúcar. A Nestlé vendeu suas fábricas no país para a Ferrero em 2018.

No Brasil, a participação conjunta da Nestlé e da Garoto no mercado de chocolates em 2002 era 58%. Hoje é 41%. Cresceram as vendas de fabricantes com lojas próprias, como as brasileiras Kopenhagen e Cacau Show, e a suíça Lindt.

A preocupação maior eram as coberturas, os tabletes gigantes que servem para a confecção artesanal de produtos de chocolate, como ovos de páscoa. A fatia da Nestlé e Garoto era 88%. Hoje é 6%. Nas caixas de chocolates, as duas marcas tinham 66%. Hoje têm 33%.

Essas mudanças tornaram difíceis as tentativas de negociar uma saída para o caso. Em 2016, o Cade e a Nestlé fizeram um acordo. A empresa venderia 10 marcas, incluindo Chokito, Lollo e Serenata de Amor, para uma empresa com menos de 20% do mercado.

A Nestlé contratou o banco Credit Suisse para ir atrás de compradores. Apareceram aproximadamente 50. Mas a empresa considerou as propostas insuficientes.

Avaliou que o baixo valor das ofertas era consequência da recessão econômica que o país atravessava e que não poderia ser obrigada a fazer negócio naquela situação.

Para um analista que trabalha para a Nestlé, as exigências seriam desnecessárias hoje pelo fato de a Nestlé e a Garoto terem só 41% do mercado.

A reabertura do caso pelo Cade vem com riscos de mais um capítulo de embate sem solução. O ex-presidente e agora superintendente do Cade, Alexandre Barreto, reabriu o processo em junho, 3 dias antes de deixar o cargo.

O comando do órgão está atualmente com Alexandre Cordeiro que não fala sobre o assunto.

A reabertura do caso no Cade foi criticada por conselheiros por ter sido feita sem explicações e sem o cumprimento de regras.

São sinais de que o processo, mesmo já tão longo, ainda pode estar longe do fim.

(Com informações do Poder 360)