Em sua segunda viagem à China, o ex-governador Renato Casagrande (PSB) mandou notícias de lá com suas impressões da nação que surpreende o mundo com um crescimento de 9,6% ao ano e adota um modelo político que mistura marxismo com economia de mercado.

Mas com uma população 1,4 bilhão, a demanda por mais proteção social é gigantesca. E existem evidencias de trabalho quase escravo, além de críticas à falta de respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Ou seja, nem a milenar sabedoria chinesa conseguiu imprimir um desenvolvimento sustentável compatível.

Após sete dias participando de um encontro de lideranças convidadas pelo Partido Comunista chinês, Casagrande – atual presidente da Fundação João Mangabeira, PSB – enumera algumas impressões.

Cita que, nos últimos anos, a China se tornou principal parceira comercial do Brasil. Compra nossos produtos naturais, como o minério da Vale, e vende produtos industrializados para o Brasil. “Essa relação não pode permanecer com esse perfil: o Brasil está exportando riqueza e empregos qualificados para a China, e ficando com os empregos de menor qualificação e remuneração”, frisa.

Por outro lado, considera que a China deva ser uma referência para o Brasil por ter desenvolvido um plano de desenvolvimento tendo a educação e o bem-estar do povo como pilares. Isso gerou oportunidades locais e inserção internacional. “Sem saber em que direção navegar, não adianta a força do vento”, filosofa, Casagrande.

E foi nesse soprar de vento que o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD) discursou na Assembleia Legislativa, dias atrás, criticando o tratamento que a Vale dispensa ao meio ambiente da Grande Vitória. Alertou para recente vazamento de resíduos no litoral capixaba. “Houve grande quantidade de peixes mortos que apareceram nas praias de Manguinhos”, pontuou.

- Publicidade -

E cobrou mais rigor tanto no controle do pó preto de minério quanto no pagamento de impostos, no que também sobrou para a Acellor Mittal e Petrobras. “Não pagam e ainda ameaçam credores”, disse. Houve um momento ooops, quando o deputado formulou uma frase infeliz: “Eu queria ser criminoso, se tivesse a certeza da impunidade que a Vale tem”. Mas deu pra entender o que ele quis dizer.

Normalmente, os impactos da Vale e Acellor – patrocinadoras de muitos eventos e apoiadoras de campanhas eleitorais – passam batidos pelo crivo dos parlamentares e costumam ser minimizados na mídia. Mas nas redes sociais… Vá fazer uma enquete sobre o que as pessoas acham do retorno da Samarco/Vale, após causar o maior dano ambiental registrado no Rio Doce e, pior ainda, embromar nos reparos. Criou até uma fundação para cuidar disso, um modo de sair do foco negativo pela tangente.

Por último, a Vale acaba de anunciar plano para reativar duas usinas na ponta de Tubarão. Sinal de que vem mais pó preto por aí no ar da Grande Vitória. E tome Termo de Ajuste de Conduta (TAC) inútil. Já as notícias de Paris mostram que o fotógrafo Sebastião Salgado acaba de ser empossado como membro da Academia de Belas Artes do Instituto da França por seu trabalho em fotojornalismo.

Em seu discurso de posse, emocionado, Salgado falou que prepara um projeto para a defesa da indefesa Amazônia. Que bom. Melhor ainda se tivesse igual empenho na recuperação do Rio Doce, que ele tão bem conhece. Porém o distanciamento do renomado fotógrafo com essa tragédia e sua proximidade com a Vale talvez expliquem mais do que mil palavras.

Luiz Trevisan é um dos melhores jornalistas do ES.

- Publicidade -