Por Christian Lynch, cientista político da UERJ.

“Os generais palacianos apoiaram o governo porque achavam que o Brasil precisava de um freio de arrumação. Como Bolsonaro não dispunha de experiência, pensaram que poderiam imprimir certa racionalidade na gestão.

Essa expectativa se frustrou devido à hegemonia do núcleo reacionário, onde estão os filhos do presidente e a quem ele acredita dever sua eleição, graças à importação e adaptação de técnicas empregadas pelo populismo de Trump.

Os militares tentam transmitir a impressão de maior moderação e lidar com a apreensão do Alto Comando, que não vê com bons olhos a exploração política pelos Bolsonaro da imagem do Exército.

Os generais palacianos e os Bolsonaro estão momentaneamente unidos, hoje, por causa da ameaça de cassação da chapa pelo TSE. Então as diferenças parecem ter se apagado.

E os Bolsonaro aproveitam para jogar os militares contra juízes, explorando uma velha rivalidade sobre quem seria o guardião da Constituição. Mas eles seguem enxugando gelo, tentando viabilizar o governo.

Em breve vão se dar conta, se já não deram, que o governo que desejam só será viável sem Bolsonaro e seu núcleo radical, que inviabilizam a racionalidade político-administrativa e solapa a credibilidade da corporação militar, associando-a à pessoa do presidente.

Então, será a hora de negociar com parlamentares e juízes uma saída, que passará pelo Mourão.” (Globo)