Luiz Trevisan

Ganhar uma eleição na UTI não é tão difícil quanto se imagina, desde que o paciente sobreviva. Às vezes, até ajuda o fato de o candidato estar hospitalizado, longe da campanha, sem o desgaste diário e ganhando trégua dos adversários.

Assim como ninguém deve brigar com bêbado – se bate, covardia, se apanha é frouxo –, ninguém bate em candidato em risco de vida. Pega mal, além de desumano.

Bolsonaro é o exemplo mais recente. Hospitalizado, vê sua candidatura presidencial ganhar vida, ao mesmo tempo em que está protegido da artilharia rival.

O deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) passou por experiência semelhante, na última campanha municipal, quando disputou com Audifax Barcelos (Rede) a Prefeitura da Serra. No início da campanha, liderava com folga as pesquisas de intenções de votos.

A certa altura, baixa na campanha do adversário, hospitalizado com princípio de pneumonia que, segundo o boletim médico, foi se agravando. Acamado, Audifax viu sua candidatura ganhar fôlego e ultrapassar o rival nas urnas.

Para Vidigal, sobrou uma certeza: “O pior adversário é quando ele vai parar no hospital, ali ele ganha imunidade e a compaixão coletiva”.

É claro que ocorrências desta natureza não escampam das teorias de conspiração. Até hoje, no Baixo Carapina, há quem atribua a eleição de Audifax a uma “montagem hospitalar”, que o caso não teria sido tão grave.

Meio assim como aqueles que duvidaram da facada “sem sangue, da cirurgia e do rápido deslocamento de Bolsonaro de Juiz de Fora para São Paulo. Agora, muitos especulam que o candidato, mesmo que tenha condições de alta, permanecerá hospitalizado até o fim da campanha. Seria assim o melhor dos mundos no pior cenário.

Tragédias não devem servir de palco, a não ser em teatro, porém a situação parece espelho da cena eleitoral. O atentado sofrido por Bolsonaro até agora vai transformando limão em limonada.

Sua inevitável derrota em um segundo turno, segundo as pesquisas, já não é tão provável, e agora os mais ricos começam a jogar suas fichas nele. A extrema direita, antes envergonhada, perdeu o pudor. E parte do eleitorado classe média, que não tolera o PT/Lula, foge de Haddad feito diabo da cruz.

Na medida em que Haddad se fortalece em segundo lugar, desenha-se um cenário pró- Bolsonaro, em tese. Enquanto isso, Ciro Gomes estanca, Alckmin e Marina vão perdendo força.

Em resumo, Haddad tende a abocanhar boa parte do eleitorado petista, porém, eis a grande dúvida, num segundo turno, até que ponto ele receberia votos do chamado bolsão moderado – que ainda inclui Alvaro Dias, Meireles, Amoedo, etc –, que não gosta de Bolsonaro e também rejeita o PT?

O cenário deve seguir nebuloso até as eleições, e reviravoltas acontecem. Lembram da eleição passada quando Eduardo Campos morreu no acidente aéreo? Marina decolou, foi aclamada virtual presidente da República, porém em poucos dias sua bolha estourou.

Candidaturas são feito corridas de balões: sobem, descem, alguns pegam fogo, outros se perdem no trajeto. Vale recorrer ao bordão do Galvão, “Haja Coração!”. Sempre lembrando que não se trata apenas de uma partida de futebol, mas sim do destino de uma nação que está em jogo, ao sabor dos ventos.

(Luiz Trevisan é jornalista capixaba e um dos melhores da capital secreta)