Do jeito que vai desenrolando esse novelo do seriado da delação JBS/Friboi, pode acabar
sobrando até para o “rei” Roberto Carlos.
Quem não se lembra do seu papel de garoto propaganda tempos atrás? Na peça publicitária de gosto duvidoso, Roberto Carlos aparece se preparando para degustar um filé da Friboi, logo ele com fama de vegetariano se deixando levar pelos prazeres da carne. Porém ficou tão sem sal que o banquete acabou restrito ao gordo cachê recebido pelo cantor.
RC foi sucedido na empreitada pelo ator Tony Ramos, este mais convincente no papel – afinal, é tudo uma grande encenação –, e logo entrou em cena o Lulinha, filho do
ex-presidente.
Ferveram especulações de que seria um dos sócios da empresa, um episódio até hoje mal explicado, enquanto a Friboi continuou engordando sua conta, recebendo aqui e ali uma injeção financeira do BNDES.
Depois, com a Operação Carne Fraca, veio outra peça de mau gosto capaz de tirar o apetite de qualquer um.
Agora, entra em cena a novelista Gloria Perez sugerindo boicotar produtos da Friboi.
E não somente por uma questão de higiene e saúde, mas por questão ética e moral, dois quesitos raros no cardápio do poder, em Brasília.
Enfim, como se explica que uma empresa iniciada com um modesto açougue, lá em 1953, vira essa potência? Claro que não se trata de um singelo case de sucesso lastreado nos princípios da labuta honesta e edificante.
Aos poucos, vai caindo a ficha, enquanto aumenta o assombro, quanto ao tipo de delação premiada firmada com os donos da JBS.
Então, a empresa recebe repasses milionários do BNDES, corrompe meio-mundo, detona Temer e cia., especula na bolsa comprando dólar, abala a República e seus donos, após a delação, seguem impunes?
Por baixo, para dizer o mínimo, passaram recibo de otário em Marcelo Odebrecht, Eike Batista e tantos outros.
Já a Rede Globo segue no morde e assopra com seu noticiário sobre o caso, principalmente a partir de dúvidas quanto ao tipo de edição do que foi levado ao ar.
Há quem considere afoita e espetaculosa a cobertura dada ao caso. Exemplo: deu manchete falando de contas de Lula e Dilma no exterior, depois corrigiu: as contas eram em nome do Joesley Batista, para que fossem movimentadas pelos dois sem deixar rastros, caso típico de operação caixa dois. Enfim, não se pode confiar plenamente na Globo até pelo histórico da rede.
Nada disso tira o sentimento geral da nação de que o governo Temer, de um jeito ou de outro, não se sustenta, tem os dias contados, mas o cenário é de alta nebulosidade
compatível com o tempestuoso clima de fim de outono.
Eleição direta ou indireta, eis a dúvida do momento, mas parece oportuno que ao menos o gosto popular agora diga não aos produtos da Friboi. Até para dar um troco e comprovar aquele ditado que o bolso é a parte mais sensível do homem.
Pensando bem, certo estava o cachoeirense Roberto Carlos. Ensaiou mas não comeu a carne da Friboi, mordeu seu cachê e saiu de cena.
Foi cantar em outra freguesia. Preferiu ir compor outro sucesso para aumentar sua legião de admiradores e assim vender mais discos. Quando a carne é fraca, só os fortes resistem.