BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – Lembro-me muito bem quando o jogo era livre em nosso País. Funcionavam inúmeros cassinos.

Corriam rios de dinheiro. Além de figuras das mais conhecidas da sociedade notava-se a presença de moças e rapazes no verdor da juventude, adquirindo o nefando vício da roleta e do carteado.

Poucos ganhavam e muitos perdiam. O lucro, como não poderia deixar de ser, só se via nas mãos dos banqueiros, quase todos ligados a “sindicatos” mafiosos com ramificações nacionais e internacionais.

Os incautos que tombavam sob a atração do pano verde em pouco tempo estavam depenados, vendendo tudo que possuíam e alienando a própria personalidade.

Grassava a corrupção, desmoralizando as instituições e as autoridades constituídas.

Os cassinos sempre foram, e nunca deixarão de sê-lo, focos de criminalidade. O resto são balelas.

A sociedade, escandalizada, exigia providências por parte do Governo. Tantos foram os clamores e protestos diante da realidade chocante e traumatizante que o Presidente Eurico Gaspar Dutra obteve do Congresso Nacional uma lei proibindo taxativamente os jogos de azar no país e determinando o fechamento de todos os cassinos.

Essa medida heróica do Presidente Dutra, dentre outros fabulosos benefícios, veio, a nosso ver, produzir um bem que reputo o mais importante: afastou as novas gerações do vício.

Toda essa mocidade criada e crescida a partir de então não aprendeu a jogar; não conhece a roleta; não vive na triste dependência dessas quadrilhas organizadas.

A implantação e o funcionamento de cassinos exigem vultosos investimentos. Geralmente são eles instalados nos balneários e pontos de atração turística, onde o metro quadrado de terra vale uma fortuna.

Mas há também a necessidade de capital para “bancar” o jogo. Esse capital não pode ser diminuto nem insignificante. Tudo isso, como é natural, só pode ser feito por poderosos grupos econômicos.

Ocasionalmente surgem movimentos financiados às largas, tentando difundir as excelências da reabertura dos cassinos. Mas nós, os brasileiros, precisamos permanecer vigilantes.

As palavras acima – todas elas – foram pronunciadas da tribuna da Câmara dos Deputados pelo meu saudoso pai há uns 40 anos.

Diante delas fico a pensar em Hegel, segundo quem “a única coisa que a história ensina é que ela não nos ensinou nada”.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve semanalmente para a AGENCIA CONGRESSO.