BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – A ‘guerrilha digital bolsonarista” que atua no anonimato nas redes sociais inviabilizou o nome da médica cardiologista Ludhmila Hajjar para assumir o Ministério da Saúde.

Ela só descobriu que estava sendo bombardeada por aliados do próprio governo quando desembarcou em Brasília e começou a sofrer ameaças, até de morte. O objetivo era desestabilizá-la.

Indicada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, e outros líderes do Centrão, pelo governador de GO Ronaldo Caiado, e avalizada por pelo menos três ministros do STF, seria a pessoa certa no pior momento da pandemia.

Mas prevaleceu a indicação política apoiada pelos filhos do presidente. Ludhmila foi ao encontro de Bolsonaro para sofrer constrangimentos. O presidente queria dar ao Centrão uma satisfação.

A cardiologista do Incor e dos hospitais Star, da Rede D’Or, foi sabatinada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, um escrivão licenciado da PF sem nenhum conhecimento médico, como o pai.

Participaram da reunião de domingo, no Palácio da Alvorada, o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A presença de Pazuello e do filho do presidente foi uma surpresa para a médica.

Sérgio Lima/Poder360

Ludhmila Hajjar disse após recusar o convite, que não é de direita nem de esquerda, que o partido dela é o Brasil e a saúde dos brasileiros.

Mesmo com apoio público de nomes de peso que apoiam o governo Bolsonaro, ela foi rejeitada por não admitir que seria submissa.

Foi uma derrota para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM); o procurador-geral da República, Augusto Aras; e os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Todos, de uma forma ou de outra, deixaram Bolsonaro saber que apoiavam a cardiologista para ser a nova ministra da Saúde.

Seu nome, no entanto, não foi bem aceito nas redes de apoiadores de Bolsonaro na internet –que são um termômetro considerado pelo presidente sempre que vai nomear alguém para cargos-chave em seu governo.

Mesmo reprovada pela guerrilha digital, a cardiologista foi recebida por Bolsonaro.

O presidente não queria ser visto como alguém que se recusa a ao menos conversar –embora já não fosse simpático ao nome de Ludhmila.

A reunião de domingo (14.mar) deu aos defensores da cardiologista a impressão de que estava encaminhada sua indicação para substituir Pazuello.

Lira até mesmo veio a público, por meio das redes sociais, manifestar que apoiava a nomeação.

O encontro no Alvorada teve certo constrangimento logo de cara, pois Ludhmila foi a uma reunião para ouvir um convite para ser ministra e encontrou na mesma sala o general que poderia substituir.

Passou cerca de 3 horas mais ouvindo do que falando, pois todos os presentes se esforçaram para dizer que nada havia sido feito de errado até agora na política do governo federal para combater o coronavírus.

A médica foi sabatinada pelo presidente e seu filho. Eduardo Bolsonaro quis saber o que ela achava de dois temas: aborto e armas.

Segundo apurou o Poder360, ela respondeu que considerava o tema das armas relacionado a polícias e às Forças Armadas, e que não nutria simpatia por armar a população.

Não foi possível apurar sua resposta a respeito de aborto. Num determinado momento, Bolsonaro quis saber o que a médica achava da cloroquina.

Ludhmila disse que não iria desdizer o presidente eventualmente no Ministério da Saúde, mas que essa fase já havia passado. Que era necessário olhar para a frente. O presidente insistiu.

Disse que ninguém sabe ainda o que funciona ou não para tratar a covid-19. E que os médicos têm o direito de prescrever o que quiserem. Nesse aspecto, houve divergência entre Bolsonaro e Ludhmila.

O presidente perguntou também sobre medidas que restringem a circulação da população para frear os contágios pelo coronavírus.

Disse ser contra o fechamento de negócios e a adoção de toque de recolher, casos de São Paulo e Brasília, por exemplo.

A reportagem do Poder360 apurou que o presidente em determinado momento dirigiu-se a Ludhmila no seu estilo que mistura franqueza com rispidez:

“Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?”.

Ludhmila afirmou que as medidas de distanciamento mais restritivas deveriam ser tomadas em situações extremas, em locais em que o número de doentes e de mortes exigisse isso.

Pazuello entrou na conversa. Disse que tinha dados diferentes e que os governadores estavam mentindo sobre a taxa de lotação de UTIs (unidades de terapia intensiva) e outras estatísticas.

Ludhmila expressou descrença sobre isso. O atual ministro da Saúde também fez uma longa exposição sobre como tem conduzido a pasta.

(Com informações do Poder 360)