Quando havia inverno regularmente – o atual é atípico –, a estação era antecedida por campanhas de arrecadação de agasalhos promovidas por instituições filantrópicas. Depois, com o frio escasseando e a picaretagem aumentando, essas campanhas também foram diminuindo. No atual quadro de corrupção em erupção venusiana, há uma crise de credibilidade até nessas instituições e organizações não governamentais cheias de projetos humanitários, mas que já não convencem. Criança Esperança? Campanhas de ajuda para determinada Santa Casa? Na dúvida e na falta de transparência, somente os incautos aderem.

Andamos tão desconfiados das boas intenções e carentes de ações positivas que o resgate do professor perdido no Pico da Bandeira foi motivo de grande e merecida comemoração. Pelo menos a vida dele foi resgatada. Já a profissão… Associado ao frio que anda fazendo há uma crise econômica com 14 milhões de desempregados e incontáveis subempregados. Daí, muita gente anda precisando de aconchego e agasalho. A população de moradores de rua aumentou visivelmente, nos últimos tempos, os ambulantes pululam entre os semáforos das nossas cidades.

No Rio, uma estimativa aponta 15 mil moradores de rua. Em Vitória, não há estatística confiável, talvez por ser um assunto incômodo, mas são numerosamente visíveis. Basta uma circulada pela Praça Costa Pereira, a qualquer hora. E como neste ano até em Vitória, a “cidade sol”, tem feito um frio do cão, há que se resgatar aquelas campanhas confiáveis de doações de agasalhos, mas isso só vai funcionar onde ainda há credibilidade, como em certas igrejas e escolas. E há aqueles que cruzam os braços e raciocinam: de que adianta cobertor se a pessoa não tem teto, emprego nem comida?

Paralelamente, há uma fome insaciável de poder corroendo. Exemplos: circulou nas redes sociais, que não são lá muito confiáveis, a notícia que a Igreja Universal enviou ao Serasa o nome dos fieis que estão devendo o dízimo. Parece piada. E segue a perplexidade: Temer aumenta imposto de combustível ao mesmo tempo em que gasta 4,1 bilhões de reais em emendas parlamentares para se manter no cargo. Num circuito mais próximo, o consórcio Eco 101, que já arrecadou mais de R$ 50 milhões em pedágios, agora quer mais cinco anos para duplicar a rodovia 101, já conhecida como a “BR da morte”. Aliás, a própria constituição desse consórcio, desde a sua vitória na licitação até sua real constituição, não prima por transparência.

Se bem que esse mundo dos negócios costuma se assemelhar à produção de linguiças e embutidos – olha a JBS aí, gente. Então, talvez seja melhor não saber como aquilo é feito, para não embrulhar o estômago. A propósito, quem consome Mc Donald`s pensará umas três vezes antes de entrar numa das lojas da rede, caso assista ao filme “Fome de poder”, que conta a história do mais famoso empreendimento fast-food do planeta. E não é apenas por causa dos sanduíches saturados.  

 No interior da Califórnia, em 1937, os irmãos Dick e Mac Donald montaram a primeira lanchonete, repaginada em 1948 vendendo somente hambúrgueres e inovando com a linha de montagem que permitia ofertar sanduíches com enorme rapidez. Em 1954, um empreendedor esperto e ambicioso, Ray Kroc, entrou no negócio e a rede foi se expandindo. Mais tarde, Kroc deu o pulo do gato ao comprar os terrenos que eram arrendados para que as unidades da rede fossem instaladas. Com o tempo, acabou dando uma rasteira nos dois irmãos. Mediante certa compensação financeira, ínfima a levar em conta o tamanho do negócio, se apropriou da marca, que hoje tem 68 milhões de clientes diários em 119 países, e 35 mil pontos de venda.

Algumas das máximas de Ray Kroc merecem reflexões: “O mundo está cheio de talentosos fracassados e de sujeitos bem educados, porém incapazes, não vencem na vida”. E outra um tanto cândida: “O sucesso do Mc Donald`s também vem dos arcos dourados em sua fachada e da sonoridade do nome”. Daí, não basta ter apenas um bom produto nas mãos para alcançar o sucesso. O que predomina, piscando como painel neon de avenida, é que no intrincado mundo dos negócios aqueles inocentes, sem ambição e politicamente corretos não vão muito longe.