BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), marcou para a próxima quinta-feira, 11, a mudança do local de trabalho dos jornalistas na Casa.

Os jornalistas prometem resistir e não entregar o espaço. Com o despejo, o Comitê de Imprensa deixará de ocupar a sala ao lado do plenário, onde está instalado desde a transferência do Legislativo para Brasília, em 1960, e passará para uma sala sem janelas no subsolo do prédio do Congresso.

Um grupo de parlamentares iniciou abaixo-assinado nesta terça-feira, 9, para evitar que o despejo aconteça.

É o jornalismo profissional que fiscaliza o poder público e veicula notícias úteis, não as assessorias de imprensa.

O espaço onde hoje fica a imprensa tem acesso direto ao local de votações, o que permite agilidade no trabalho de informar o que se passa nas sessões.

A sala agora abrigará o gabinete de Lira. A mudança que vai custa caro, também dificulta o acesso ao presidente da Câmara, que poderá ingressar no plenário diretamente, evitando, assim, ser abordado por profissionais de imprensa e de outros setores.

O espaço para os jornalistas foi projetado por Oscar Niemeyer, justamente para que o Parlamento fosse fiscalizado.

O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) encabeça o abaixo-assinado dos que se opõe a transferir a imprensa de lugar. “(Mudar o comitê de lugar) é uma decisão administrativa. A gente tenta reverter politicamente, mostrando força (com o abaixo assinado)”, disse Kataguiri.

“Independente das críticas que se possa fazer a qualquer veículo de comunicação, todos eles têm o direito, e o dever, de fazer a cobertura da Casa mais representativa do país, que é a Câmara dos Deputados”, completou.

No texto em que tenta evitar a transferência, o deputado do DEM diz considerar o trabalho da imprensa como “vital” para o processo democrático.

“A Câmara dos Deputados é um dos órgãos mais democráticos do Brasil. Aqui, nada deveria ser feito de forma secreta. A presença ostensiva da imprensa se justifica para permitir ao povo a mais absoluta transparência sobre todos os assuntos da Câmara.

Respeitosamente, entendemos que a atitude de Vossa Excelência é equivocada, pois dá azo a que se cogite que a imprensa tem papel secundário nos trabalhos da Casa. Não tem. A imprensa é parte vital do processo democrático”, diz o abaixo-assinado.

Além do deputado do DEM, outros parlamentares reclamaram da mudança. “Todo meu apoio à luta pela permanência do Comitê de Imprensa no seu local na @camaradeputados. A atuação desses jornalistas enriquece a produção legislativa de nossa casa, além de garantir transparência”, escreveu o líder da Minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), em uma rede social.

“A liberdade de imprensa é uma das principais questões da Constituição Federal. Infelizmente nós já temos Jair Messias Bolsonaro que ataca os jornalistas sistematicamente, e não será a Câmara dos Deputados que vai inviabilizar o livre exercício das jornalistas e dos jornalistas”, afirmou a deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS) no plenário.

“Decisões sem justificativa que dificultem o trabalho da imprensa não ajudam a democracia nem a transparência que o Parlamento deve ter. Cabe a nós parlamentares reforçar o papel da imprensa na democracia em meio a esta onda de retrocessos trazidas pelo governo Bolsonaro”, disse ao Estadão a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

Não é a primeira vez que um presidente da Câmara tenta retirar a imprensa do local. O prédio do Legislativo é patrimônio histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A mudança foi tentada nas gestões do PT na presidência da Câmara, mas houve resistência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois o prédio é tombado e, por isso, só pode ser modificado com autorização do órgão.

O aval só veio na gestão de Eduardo Cunha (MDB-RJ). O emedebista pretendia levar a reforma adiante, mas acabou tendo o mandato cassado em 2016 antes de conseguir executar a obra. Ele foi preso por envolvimento na Lava Jato no mesmo ano.

Com informações do Estadão

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/02/02/interna_politica,1234349/fiel-escudeiro-de-cunha-lira-votou-contra-cassacao-do-colega-em-2016.shtml