Nos idos de 2015 li que a África recebe do tão cristão mundo ocidental alguma coisa em torno de US$ 30 bilhões anuais a título de ajuda contra a fome, combate ao desmatamento etc.

O mesmo relatório, porém, aponta que as empresas ocidentais retiram de lá US$ 46,3 bilhões a título de remessa de lucros.

Os bancos ocidentais outros US$ 21 bilhões por conta de pagamentos de juros e de dívidas – aqueles muitas vezes injustos e estas frequentemente explicadas apenas pela corrupção.

Perdem-se outros US$ 1,3 bilhão por conta da pesca ilegal praticada por empresas estrangeiras.

Não nos esqueçamos, evidentemente, da evasão fiscal praticada por transnacionais – estimada em incríveis US$ 35,3 bilhões.

A propósito, além de sonegar tributos algumas dessas empresas extraem recursos naturais de forma ilegal, penalizando a África em mais US$ 17 bilhões.

O relatório prossegue – é longo. Eis, no entanto, sua conclusão: é verdade que poderosos governos e transnacionais enviam para a África US$ 30 bilhões a título de ajuda anualmente.

Porém, de lá retiram nada menos que US$ 192 bilhões no mesmo período.

Acredito que o quadro geral esteja simples: seria melhor se o denominado ‘1º Mundo’ simplesmente estancasse a sangria que provoca no continente africano, o qual poderia então, e com folga, proteger suas crianças e suas florestas, a par de criar a infraestrutura necessária ao desenvolvimento econômico.

Há, porém, aspecto outro que, apesar de imaterial, não é menos importante: o da dignidade nacional.

Seguramente são humilhantes para os africanos as cenas de pobres crianças recebendo prosaicas vacinas de estrangeiros – as mesmas crianças que, sob pungente escravidão, retiram de suas minas a matéria-prima adquirida a ‘preço de banana’ por tantas transnacionais.

Creio que não seja menos degradante para cada africano ler pela imprensa mundial arrogantes ameaças de governos estrangeiros sobre o envio de fundos para a conservação de suas florestas e fauna, não raramente destruídas e ameaçadas por cidadãos e empresas daqueles mesmos países!

Eis aí, de forma simplista porém fiel, retratada a situação da África. E a do Brasil? Qual a nossa realidade em relação a tais aspectos?

Eis aí um interessante tema, merecedor de amplos estudo e discussão pelo povo brasileiro e suas instituições.


O autor é jornalista, desembargador no TJES e escreve semanalmente para a AGC.