BRASÍLIA — Em uma investigação sigilosa sobre desvio de recursos na Companhia de Docas do Espírito Santo (Codesa), a Polícia Federal (PF) identificou indícios de que o esquema teria bancado despesas pessoais da senadora Rose de Freitas (MDB-ES), como a quitação de boletos de imóveis e fatura de cartão de crédito.
A parlamentar, porém, nega ter praticado qualquer irregularidade e diz que as suas contas foram pagas de forma lícita e regular.
Após a quebra do sigilo bancário de alvos da investigação, a PF descobriu transações financeiras suspeitas envolvendo o irmão da senadora, Edward de Freitas, e um primo dela, Ricardo Saiter, que eram funcionários da Codesa, administradora do Porto de Vitória, no Espírito Santo.
De acordo com o inquérito sigiloso, obtido pelo GLOBO, os policiais encontraram indícios de que empresas com contratos com a Codesa seriam pressionadas a pagar propinas para Edward e Ricardo Saiter, que usariam os recursos arrecadados para quitar despesas da senadora.
Foi com base nesses indícios, coletado ao longo da investigação, que a Polícia Federal cumpriu busca e apreensão nos endereços da senadora e a prisão temporária do seu irmão e do seu primo na Operação Corsários, deflagrada em 12 de maio após autorização do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Análise de e-mails
Procurada, a defesa de Rose de Freitas negou irregularidades e afirmou que as despesas da senadora foram pagas com recursos lícitos e regulares, não havendo qualquer conduta irregular por parte da parlamentar.
“Em respeito ao sigilo determinado pelo Ministro Nunes Marques no âmbito da citada investigação, entretanto, a defesa não fará comentários específicos sobre os trechos dos documentos vazados, supostamente contidos naquele inquérito”, afirmaram, em nota, os advogados Thiago Fleury e Marcelo Bessa, que defendem a senadora.
Edward foi procurado por meio de seu telefone celular, mas não retornou. O GLOBO pediu esclarecimentos a Ricardo Saiter por meio da assessoria do gabinete da senadora, que informou não poder intermediar o contato.
Após analisar e-mails e movimentações financeiras dos suspeitos, a PF descobriu que o gabinete de Rose de Freitas encaminhou para Edward e Ricardo boletos referentes a pelo menos três imóveis.
O mais caro deles foi uma conta de R$ 300 mil, referente a uma parcela da aquisição de um imóvel no Rio. A dupla, de acordo com a investigação, também teria recebido outro boleto de R$ 38 mil, relacionado a um imóvel em Vila Velha (ES). Além disso, Saiter pagou um boleto de aluguel de R$ 7.667,05 de um imóvel na Barra da Tijuca, no Rio, onde moraria a filha da senadora.
Os investigadores também encontraram e-mails nos quais a senadora encaminhou outras despesas pessoais para Saiter como um boleto de um cartão de crédito e uma fatura de agência de turismo. Ao STF, a Procuradoria-Geral da República afirmou haver “possibilidade concreta da existência de uma organização criminosa” que, por diversos anos, “permaneceu instalada no interior de empresa pública”.
Fonte: oglobo.globo.com