BRASÍLIA – O ex-ministro Antonio Palocci afirmou à Polícia Federal em sua delação premiada que usou R$ 250 mil da “conta” Lula de R$ 15 milhões acertada com o dono do BTG Pactual André Esteves para pagar despesas da viagem de descanso da ex-presidente Dilma Rousseff, para a Bahia, após sua vitória nas eleições em 2010.
As investigações contra governos petistas estão se aproximando da ex-presidente, que pode acabar presa como Lula, e o próprio Palocci.
Eleita no segundo turno sucessora de Lula, Dilma viajou no dia 3 de novembro para uma praia paradisíaca em Itacaré, na Bahia, onde ficou na mansão alugada do empresário paulista João Paiva Neto. Palocci diz que pagou o jato e outros custos como a locação do imóvel com o dinheiro acertado com Esteves.
“O colaborador usou parte desses recursos, cerca de R$ 250 mil, para arcar com despesas da viagem de descanso que Dilma Rousseff fez após vencer a eleição em 2010”, registra o termo de delação 9 de Palocci, anexados nos autos da Operação Pentiti, a fase 64 da Lava Jato deflagrada nesta sexta, 23.
A Pentiti apura supostos crimes de corrupção envolvendo o BTG Pactual e a Petrobras na exploração do pré-sal e ‘em projeto de desinvestimento de ativos’ na África. Entre os alvos da operação estão a ex-presidente da estatal, Graça Foster, e André Esteves. De acordo com a PF, os supostos crimes podem ter causado prejuízo de ao menos US$ 1,5 bilhão, o que equivaleria a cerca de R$ 6 bilhões de reais hoje.
Há um termo específico sobre os detalhes dessa viagem, mas Palocci narrou no termo 9 em que trata dos acertos com André Esteves envolvendo negócios do BTG Pactual com a Petrobrás na África o fato. Nele o delator narrou que na campanha de 2010 o banqueiro queria estreitar relações com Dilma e prometeu dar R$ 15 milhões em favor de Lula e para uso na campanha.
“Dilma Rousseff foi informada das intenções de André Esteves expostas a Antonio Palocci e do apoio financeiro por ele prometido e efetivamente dado, inclusive quanto a seu emprego para quitação dos custos com a viagem da então presidente eleita.”
Palocci assumiu responsabilidade sobre a destinação dos recursos acertados com Esteves para patrocinar a viagem de descanso de Dilma.
Levantamento
A Polícia Federal buscou elementos para comprovar o que dizia Palocci em sua delação. O acordo fechado com a PF em 2018 e homologado no Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4) – a segunda instância da Lava Jato – pelo desembargador João Pedro Gebran Neto.
A Informação de Polícia Judiciária 102/2018, entregue ao delegado Filipe Hille Pace, registra recortes de notícias sobre a viagem de Dilma à Bahia, após a eleição, dados sobre aeronave e os gastos com o passeio – que segundo informaram à época teria sido custeada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (que morreu em 2014).
“De acordo com os relatos do criminoso colaborador Antônio Palocci Filho formalizados junto aos termos de colaboração premiada, em síntese apertada, o mesmo sustenta a hipótese de que a pessoa de André Santos Esteves, seria o responsável por administrar recursos ocultos da pessoa de Luiz Inácio Lula da Silva, com o auxílio da estrutura financeira do banco BTG Pactual”, informa o documento.
Segundo Palocci afirma na delação, pelo menos R$ 5 milhões dos R$ 15 milhões acertados foram usados para custear restos dos gastos da campanha presidencial, como pagamentos para agência de publicidade e a viagem de descanso. O dinheiro foi sacado pelo seu ex-braço direito Branislav Kontic, em diversas visitas que fez ao banco.
No Termo 7 da delação de Palocci ele conta ainda que “tratou-se de viagem cara, na qual houve o fretamento de jato particular e hospedagem da candidata vencedora e de equipe em luxuoso imóvel”.
As despesas a viagem foram oficialmente e publicamente arcadas por Marcio Thomaz Bastos, sendo ele posteriormente ressarcido com os valores de propina”
Branislav Kontic levou os recursos ao escritório do advogado. Palocci diz que nem Esteves soube da destinação dos valores nem Bastos sabia da origem ilícita do reembolso.
A PF produziu ainda documentos sobre o jato usado na viagem, sobre o contrato feito para locação da mansão em que a ex-presidente ficou hospedada, entre outras.
O contrato de locação do imóvel feito com o empresário paulista foi assinado pelo então governador da Bahia, Jaques Wagner – ex-ministro da Casa Civil de Dilma. O dono enviou à PF um documento e informou que a casa tinha sido alugada para Wagner. No material há um recibo com data de 8 de novembro de 2010 que registra pagamento de R$ 12 mil pelo ex-govenador por meio de um cheque, pela locação da casa entre os dias 3 e 7 de novembro.
COM A PALAVRA, DILMA ROUSSEFF
A propósito das supostas novas declarações do senhor Antônio Palocci, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff registra:
Mais uma vez, o senhor Antônio Palocci mente em delação premiada tentando criar uma cortina de fumaça porque não tem provas que comprometam a idoneidade e a honra da presidenta Dilma.
É fantasiosa a versão de que ela teria “dado corda” para a Lava Jato “implicar” Lula. Isso não passa de uma tentativa vazia de intrigá-la com o presidente Lula.
Na verdade, a delação implorada de Palocci se constitui num dos momentos mais vexaminosos da política brasileira, porque revela o seu verdadeiro caráter.”
COM A PALAVRA, O BTG PACTUAL
“Com relação à operação da Polícia Federal realizada nesta data, o BTG Pactual esclarece que está à disposição das autoridades para que tudo seja esclarecido o mais rápido possível, como sempre.
O BTG Pactual reforça que o Banco opera normalmente.
O Banco esclarece ainda, que o objeto da referida busca e apreensão foi alvo de uma investigação independente conduzida pelo escritório de advocacia internacional Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan, LLP, especializado em investigações e auditorias, contratado em 2015 por um comitê independente formado justamente para fazer uma auditoria externa e imparcial sobre as alegações na época relacionadas a atos ilícitos.
A referida auditoria concluiu não existir qualquer indício de irregularidade. O relatório é público e pode, inclusive, ser acessado no site do banco.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE GRAÇA FOSTER
A reportagem tenta contato com a defesa da ex-presidente da Petrobrás. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, A ADVOGADA SÔNIA COCHRANE RÁO, QUE DEFENDE ANDRÉ ESTEVES
“Inexplicável e verdadeiramente assustadora a nova medida de força adotada sem qualquer motivo, baseada na desacreditada delação de Antônio Palocci, contra uma instituição financeira e um cidadão recentemente vítima de violento erro judiciário reconhecido por todas as instâncias judiciais.”