O Brasil tem um imenso potencial de geração de energia elétrica – que, porém, importamos. É um dos maiores produtores mundiais de petróleo – mas importa combustíveis. Quem ganha com isso?

Nosso país tem dimensões continentais – no entanto, desprezando a lógica mais básica, trocou trens e navios por caminhões e rodovias de altíssimo custo para a economia como um todo. Quem ganha com isso?

Somos um dos povos mais criativos do mundo. Até aviões concebemos. Nossa economia, porém, é quase que totalmente baseada no extrativismo e na exportação de matéria-prima. Quem ganha com isso?

Nas últimas décadas o Brasil desnacionalizou vasta parcela de seu parque industrial e de sua própria economia. Crescem a olhos vistos as remessas de lucros para o exterior. Quem ganha com isso?

Vivemos em uma era tecnológica – porém, não temos ainda uma única fábrica funcional de “chips” neste país. Vale dizer: somos, por exemplo, meros “montadores” até de prosaicas calculadoras de bolso. Quem ganha com isso?

Temos um litoral de 7.367 km. A maior rede hidrográfica do mundo, com 55.467 km². Mas nossa indústria naval ainda é incipiente. Temos 75.800 km de rodovias – porém uma indústria automobilística praticamente toda pertencente a estrangeiros. Quem ganha com isso?

Neste país muda-se até o passado. Não temos, eis a verdade, aquela estabilidade jurídica definida como o mais importante motor do crescimento econômico.

Vivemos perplexos, sem condições de planejar com serenidade nossas vida e economia. Quem ganha com isso?

Nosso sistema tributário sufoca, financeira e burocraticamente, as empresas de pequeno e médio tamanho – no mais das vezes brasileiras e de brasileiros.

A algumas transnacionais, porém, destina-se um cenário digno dos mais acintosos paraísos fiscais do planeta. Quem ganha com isso?

Enquanto povo, vivemos a discutir praticamente tudo – menos os verdadeiros problemas nacionais. Desmoralizamos o escândalo. Já estamos inacreditavelmente divididos. Quem ganha com isso?

Acredito piamente que nas respostas às perguntas acima esteja a razão de o Brasil ser uma “vaca leiteira” para tantos – e pior, uma “vaca atolada”.

De nossa realidade apresentar-se em não poucos momentos tão “avacalhada”. De tantas vezes nosso perplexo povo exclamar, angustiado, que “a vaca foi para o brejo”.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. Escreve semanalmente para a AGENCIA CONGRESSO.