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A selva

PEDRO FEU ROSA

Dia desses li um minucioso relatório produzido no Congresso Nacional pela Comissão Parlamentar de Inquérito dos Cartões de Crédito. Deparei-me, nele, com alguns números dignos de reflexão.

Os parlamentares verificaram, inicialmente, que “o mercado de cartões movimentou cerca de um trilhão e trezentos bilhões de reais em 2017. Nada menos do que treze bilhões de transações foram processadas naquele ano. Cerca de um terço do consumo de todas as famílias brasileiras se deu mediante o uso do cartão”.

Estamos, assim, a falar de algo relevante para a economia nacional. Neste sentido, é preocupante o dado seguinte: “os dados revelam que cerca de 73% da receita financeira gerada no negócio “cartão de crédito” é consumida pela inadimplência”.

A quantas anda, precisamente, esta inadimplência pelo Brasil afora? Apurou-se que “para cada real emprestado no Brasil, recuperam-se apenas dezesseis centavos. No crédito rotativo a situação é ainda pior – cada real emprestado vale apenas e tão somente dois centavos”.

A constatação seguinte: “hoje em dia, um em cada três clientes está no rotativo em razão do não pagamento. Na prática, esse inadimplente sobrecarrega os outros dois que cumprem com seus compromissos em dia”.

Uma primeira constatação, assim, mostrou-se evidente: “é fundamental que as iniciativas de recuperação de crédito sejam mais efetivas e menos onerosas ao sistema financeiro, uma vez que a inadimplência e os processos relativos à recuperação do crédito ainda são caros e pouco eficientes”.

Diante deste quadro, não surpreende a muito séria afirmação seguinte: “algumas instituições financeiras brasileiras alavancam o seu resultado a partir de estratégias que levam os consumidores ao superendividamento – estratégias essas muitas vezes violadoras da boa-fé”.

A tradução de tudo isto: vivemos em uma verdadeira selva, com prejuízos evidentes para a economia do Brasil como um todo. Fico a pensar em quantos empregos deixamos de gerar e em quantas famílias não retiramos da miséria por conta de tolerarmos tamanha balbúrdia!

Quantos séculos mais até o Brasil exclamar, lembrando Rui Barbosa, “com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação”? Quantos séculos mais até que decidamos entender, com nossa bandeira, que a ordem é pressuposto do progresso?

 

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