Por Pedro Valls Feu Rosa

Os senhores da guerra estão excitados. De qual conflito estão a tratar? Não importa – afinal, são tantos! Ao fim do cabo temos, pelo planeta afora, apenas três tipos de povo: os que já estiveram guerreando, os que estão e os que estarão.

Sucedem-se as bravatas, ameaças e declarações bombásticas em um ritmo alucinante, a trivializar um tema merecedor da maior circunspecção e moderação. Na essência, não apresentam que um comportamento infantil.

Pedindo emprestado o título de uma comédia, são apenas “boys with toys” – meninos com brinquedos. Atores deploráveis de uma ópera bufa – que acabam transformando em tragédia.

Eles assim não agiriam sem a cobertura de estruturas tão sinistras quanto invisíveis. Refiro-me ao denominado “Deep State” – o Estado Profundo, nome dado às quadrilhas formadas em torno de interesses comerciais e financeiros inconfessáveis.

Dizem alguns que elas comandam o mundo. Vou à janela, contemplo a humanidade e percebo que deve ser verdade.

Uma das primeiras vítimas desses bandos é a imprensa livre. Seja por meios sutis ou brutais sonegam à opinião pública o direito simples e fundamental de serenamente ouvir os dois lados. Transformam o dever de informar na sanha de formar.

Sucedem-se livros, músicas, filmes, peças de teatro e o que mais a imaginação conseguir engendrar no intuito de semear a cizânia e o ódio. De criar preconceitos. De disseminar a cultura da violência. De legitimá-la.

Alienados, os povos liberam instintos os mais primitivos. Crianças são chacinadas por serem negras. Ou brancas. Ou amarelas. Ou seja lá o que for.

Mulheres por terem nascido. Idosos porque rezam – e também porque não rezam. Não há limites para a crueldade. Afinal, tudo é permitido a quem faz o mal em nome do bem.

Sob a luz do dia milhões gritam – alguns de dor, outros de júbilo. Sofrem e fazem sofrer. Matam e morrem. Contemplando tão triste cenário, mas sempre ocultos nas sombras, gargalham os arquitetos de toda essa desgraça, na ilusão de ser possível gastar racionalmente o ouro que graças a ela amealharam. De comprar a felicidade.

Eis que chega o entardecer. Põe-se o sol. E o vento da noite, em um sussurro gelado, lembra aos homens – porém tarde demais – a séria advertência de Thomas Jefferson: “Eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.


Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no ES. E escreve regularmente para a AGENCIA CONGRESSO