BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – Defensora do movimento negro no Brasil e da igualdade racial, a senadora Rose de Freitas defendeu a saída de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Cultural Palmares.

Em nota, a parlamentar traça um paralelo entre as graves críticas feitas publicamente por Camargo contra negros e negras, que conflitam com a Constituição Federal e com os fundamentos da própria instituição, para justificar a motivação para a sua saída.

Rose considera que as manifestações do chefe da Fundação “desqualificam o trabalho desta instituição e o movimento dos negros no contexto social do nosso País”.

Para a senadora, “em vez de unir negras e negros em torno de uma causa justa, propositiva e agregadora, o Sr. Sérgio Camargo propugna o oposto”. Nota na íntegra:

Senadora Rose de Freitas

NOTA DA SENADORA 

O respeito à diversidade de raças e etnias de um povo é elemento que distingue uma nação civilizada da barbárie. No Brasil, 56% da população é constituída de pretos e pardos.

Não são minoria, mas têm seus direitos mais elementares diariamente desrespeitados. Ganham menos, morrem mais, estudam menos. São vítimas permanentes da violência física e da discriminação racial.

Combater esta infame desigualdade é dever de todos, mas, sobretudo, do Estado e seus agentes. A Constituição Cidadã não tergiversa a este respeito: “Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Infelizmente, as atitudes perpetradas por meio de ações e palavras do Senhor Sérgio Camargo, atual presidente da Fundação Cultural Palmares, vão no sentido oposto ao ideal inscrito na Constituição. Basta consultarmos o sítio da entidade na internet para constatarmos o desrespeito aos fundamentos da instituição: a Fundação Cultural Palmares está “voltada para promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”.

Ora, como cumprir a Constituição e os princípios motivadores da própria Fundação se seu titular vai de encontro aos valores erigidos pela Constituição 1988, nossa Carta Magna?

Basta uma pesquisa no noticiário estampado na internet para verificar a inaptidão e inadequação do Sr. Sérgio Camargo no desempenho da superintendência desta importante Fundação.

No portal G1, dia 02/06/2020, lê-se uma de suas afrontas à cultura negra: “O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, chamou o movimento negro de ‘escória maldita’ em uma reunião gravada sem que ele tivesse conhecimento. Na ocasião, Camargo também disse que Zumbi era ‘filho da puta que escravizava pretos’, criticou o Dia da Consciência Negra, falou em demitir ‘esquerdista’ e usou o termo ‘macumbeira’ para se referir a uma mãe de santo”, desrespeitando nossa diversidade religiosa.

Numa outra publicação, a Folha de S. Paulo, de 27/11/2019, mais afrontas à cultura negra: “Camargo, que usa a rede social com frequência, também escreveu que a escravidão foi terrível, ‘mas benéfica para os descendentes’. Na sequência, diz que ‘negros do Brasil vivem melhor que os negros da África’ ”. Outro trecho: “Ele já afirmou, em sua conta, que o Brasil tem ‘racismo nutella’ e que racismo real existe nos EUA’ ”.

A mesma publicação mostra mais críticas descompassadas com a luta travada no Brasil pelo fim do racismo. “Em outra publicação, no dia 20 de novembro, ele chama de ‘vergonha’ o Dia da Consciência Negra e afirma que ele ‘precisa ser combatido incansavelmente até que perca a pouca relevância que tem’ ”.

Ainda na mesma Folha de S. Paulo: “O novo presidente da Fundação Palmares também já fez críticas a atores, músicos e personalidades do movimento negro, como a filósofa e ativista negra feminista Angela Davis, que veio a São Paulo no fim de outubro, chamada de ‘baranga comunista’, ‘comunista terrorista norte-americana’ e ‘mocreia’ ”. Aqui, além de tudo, expõe seu caráter machista.

Seus ataques às mulheres negras são recorrentes: “Na mesma rede, Camargo também faz críticas ao ator Lázaro Ramos e diz que a cantora Preta Gil e a atriz Camila Pitanga ‘têm pele clara mas se dizem negras para faturar politicamente e fazer discurso vitimista’ ”.

Conforme constatou a colunista Mônica Bergamo, “além de negar reiteradamente a ocorrência de racismo estrutural no país, Camargo já defendeu o fim do feriado da Consciência Negra, a extinção do movimento negro e chegou a afirmar que a escravidão foi ‘benéfica para os descendentes’ de escravizados no país”.

Nesta terça, 13/10/2020, num outro gesto belicista, o titular da Fundação Cultural Palmares excluiu o nome da ex-ministra e ex-senadora Marina Silva da lista de personalidades negras da instituição.

Marina Silva foi excluída da lista de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares. Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição“, postou o titular da Fundação numa rede social, segundo jornais de divulgação nacional em 13/10/20.

Os atos e as ações aqui mencionados, pelo que facilmente se constata, desqualificam o Sr. Sérgio Camargo para o exercício de cargo tão expressivo. Sua função, como consta da Lei 7.668/1988, que constituiu a Fundação, é “promover e apoiar eventos relacionados com os seus objetivos, inclusive visando à integração cultural, social, econômica e política do negro no contexto social do País”.

O Sr. Sérgio Camargo tenta desqualificar o trabalho desta instituição e o movimento dos negros no contexto social do nosso País, e se porta desqualificadamente para continuar ocupando tal cargo. Em vez de unir negras e negros em torno de uma causa justa, propositiva e agregadora, o Sr. Sérgio Camargo propugna o oposto. Como integrar o negro no contexto social do Brasil se o presidente da Fundação age exatamente no sentido contrário?

Por todos estes fatos, resta patente que o Sr. Sérgio Camargo não reúne mais condições de se manter à frente da Fundação Cultural Palmares. Sua saída poderá promover a pacificação entre Poder Executivo e movimentos negros para que, juntos, atuem “com a finalidade de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”, conforme postulado na lei formadora da instituição.

(informações da Assessoria da Senadora)