Por Luiz Trevisan

Cá entre nós, uma sucessão estadual sem Paulo Hartung (PH) como candidato é mais ou menos como aquele cenário da Copa na Rússia, no instante em que as principais seleções haviam sido eliminadas: o ambiente parecendo final de festa quando pessoas mais interessantes já foram embora e só restavam malas.

E tudo ao som daquela paródia irritante: “tchau Messi, tchau Cristiano, tchau Neymar, tchau…” E já surgem apressadinhos cantarolando baixinho “tchau PH, tchau…”

Não é à toa que no bloco governista aparece a bandeira do “Volta PH”, pois sem ele fica difícil encarar Casagrande e Rose. É claro que as divisões no bloco governista fortalecem esse apelo, que vai sendo reverberado nas redes sociais por Neucimar Fraga, o mais fiel escudeiro de PH nas mídias digitais.

Com o bloco governista ameaçando ruir e partindo para o “salve-se quem puder que o piloto sumiu”, a nova aposta no mercado é para saber se PH vai manter até o fim sua desistência. O limite é 5 de agosto, fim do prazo das convenções partidárias que definem candidaturas.

Portanto, até lá, façam suas apostas. Mesmo Neucimar Fraga considera “remota” a possibilidade de PH voltar atrás. Já entre as lideranças políticas, virou um tal de roer unhas entre almoços, jantares e reuniões noites adentro.

O que está evidente no momento é que sem PH disputando, a coisa complica para a base governista. Cogitaram como opção até candidato que não tem nenhuma densidade eleitoral. Gerou muxoxos tipo: é pra rir ou chorar, como diria Maradona sacaneando o Neymar.

Logo que PH anunciou que não concorreria ao governo, pois estava na hora de ”passar o bastão”, após a perplexidade, começaram a surgir explicações e especulações. Seria problema de saúde, resistência familiar ou receio de perder a eleição?

O próprio governador descartou a questão de saúde, e enfatizou a necessidade de “renovar lideranças”. E assim rolou a bola para seu time de apoio. O que se viu em seguida, porém, foram caneladas, pisadas de bola, puxão de camisa, trenzinho inimigo chegando ameaçador na grande área.

Mas, afinal, qual a leitura das pesquisas eleitorais? Todo mundo sabe que PH não toma decisões importantes sem levar em conta o que apontam as pesquisas. Uma constatação que teria incomodado muito o governador foi seu índice de rejeição.

A alguns aliados manifestou que enquanto é bem avaliado nacionalmente (chegou a ser cotado para ser candidato a presidente ou virar vice), internamente não haveria o devido reconhecimento ao seu governo.

E quanto à alardeada imprevisibilidade de PH, condição que alimenta alguns aliados esperançosos de que o governador ainda vai tirar da sua cartola uma solução mágica?

O deputado federal Evair Melo tem uma avaliação curiosa, diferente da maioria que acredita naquela máxima do então presidente da Findes Lucas Izoton (“de PH é difícil prever até o seu passado”).

Segundo Evair, PH já vinha sinalizando que não tentaria a reeleição, “bastava prestar atenção nos seus atos e suas falas”.

Além disso, deu um nó na sucessão e tirou de Casagrande sua maior plataforma, pois sem PH na disputa o ex-governador perde seu principal alvo e discurso”.

Pode ser em parte. Mas as pesquisas mais recentes apontam que sem PH no páreo, o ex-governador Renato Casagrande desponta como franco favorito, pois tem a seu favor um bom conceito e baixa rejeição.

Agora, é prestar atenção principalmente nos movimentos da senadora Rose de Freitas (Podemos), até então bem articulada com Casagrande. Ela já aparece no radar de PH como opção para liderar seu grupo na sucessão. E quem disse que em política água e óleo não se misturam? Tudo depende das conveniências e interesses maiores.

De resto, chama a atenção o paradoxo apontado pelas pesquisas, tanto locais quanto nacionais, onde lideranças consolidadas, algumas já bem rodadas, despontam como favoritas nas eleições proporcionais e majoritárias, isto num momento em que setores da sociedade clamam por “renovação”.

Justamente o argumento utilizado por PH para justificar sua ausência. Ou seja, as pessoas vão às ruas e redes sociais pedir mudança. Contudo, tendem a votar naqueles mesmos. Aspiram modernidade e escolhem retrô. Vá entender essa gente…

Luiz Trevisan é jornalista capixaba