* Leonardo Humberto Bucher

Algo que sempre me incomodou, desde os bancos do curso de Ciências Econômicas na UFES no início da década de 1980 até hoje, passando pelo MBA em Gestão Empresarial que cursei na COPPEAD/UFRJ já em meados dos anos 1990, é como não se evidencia um quesito, a meu ver essencial, nos cursos e aconselhamento aos futuros empresários. A questão é: onde empregar preferencialmente o capital inicial no processo de criação de uma empresa?

Creio não restar dúvidas de que o brasileiro médio é, sob muitos aspectos, bastante empreendedor, audaz, beirando até à irresponsabilidade sob alguns destes aspectos. E este perfil o faz começar algo sem muita preparação, mas mesmo aqui sinto falta dele se inteirar de coisas mínimas para a sobrevivência do seu novo empreendimento.

Não por acaso, aproximadamente a metade das micro e pequenas empresas não duram mais que 5 anos no Brasil. Aqui tendo que se excluir as MEI (isto é, os microempreendedores individuais), que duram bem mais por não ser exatamente uma empresa. Inclusive na ideia inicial de sua criação, elas eram chamadas de Pré-empresa, o que é mais adequado ao seu status e não são abrangidas pelo meu raciocínio.

Se lembrarmos que o custo do dinheiro para investimento é infinitamente menor, e seu volume disponível é muito maior, que o custo do dinheiro para capital de giro, seria óbvio supor que o candidato a empresário iria preferir, caso não possuísse recursos suficientes para montar e operar inicialmente o empreendimento, como ocorre na quase totalidade das vezes, fazer uso do dinheiro mais barato para parte do investimento inicial, deixando uma boa parcela para tocar o negócio na sequência. Para não ter que pagar juros extorsivos depois. Mas, quase que invariavelmente, não é o que ocorre!

O futuro empresário gasta todos os seus recursos disponíveis na compra de máquinas, instalações e investimentos fixos de toda a espécie. Na verdade, quase sempre, ele esgota o volume inteiro de dinheiro disponível com estas coisas e na hora de fazer seu negócio rodar, ele não tem mais recursos

disponíveis. E aí tem que se submeter às taxas e exigências escorchantes do sistema financeiro nacional.

Boa parte não resiste logo de início, alguns aguentam algum tempo e outros mais resistentes se endividam por um longo tempo até terem que sair do mercado por insolvência e falta de liquidez.

O empresário norte-americano, por exemplo, sabe muito bem algo que aqui não é disseminado: problemas econômicos debilitam uma empresa, porém falta de caixa mata inapelavelmente, principalmente em um país onde as taxas de juros para este tipo de dinheiro são proibitivas.

Às vezes este herói até que tem alguma boa ideia (produto), até que se preparou e preparou uma equipe razoavelmente adequada, até que tem uma clientela razoável à disposição, mas não resiste à falta de recursos para girar o negócio.

Fez tudo certo, menos lembrar que todo negócio tem seu ciclo operacional e, por isto, ele tem que ter recursos para, no mínimo, suportar este ciclo, isto é, o tempo decorrido entre a compra dos insumos e o recebimento das vendas à prazo.

Morre abatido pela síndrome do “tudo que eu tenho aqui está comprado e pago, não devo nada a ninguém”, tão comum entre todos os novos pequenos empreendedores e que é tão pernicioso ao início de qualquer negócio e, como comecei dizendo, me deixa bem incomodado com o descaso solene dado a este importante fator.

Não entendo como não se aconselha a estes novos empreendedores a buscar dinheiro barato em bancos de desenvolvimento e agências de fomento para seus investimentos e deixar seu dinheiro disponível para fazer caixa e bancar suas despesas de custeio de forma a suportar seu ciclo operacional.

* Leonardo Humberto Bucher é empresário, engenheiro eletricista pela UFES, fez MBA em Gestão Empresarial na COPPEAD/UFRJ e cursou Ciências Econômicas na UFES