Por Luiz Trevisan – “É extensa a trilha sonora sobre a Lua. Imagino que desde as cavernas havia trovadores grunhindo alguma loa, avança com os menestréis da Idade Média, passa pelos aborígenes a transformando em deusa. E quanta trilha para a Lua, anônima ou famosa, já se compôs debaixo do Sol?”

As comemorações dos 50 anos daquele passo gigantesco do homem na Lua não parecem convencer uma parcela da população ainda descrente dessa conquista. Assim como existem os que acreditam que a Terra é plana. Estatísticas apontam que 7% dos brasileiros fazem parte desses desconfiados das evidências científicas, a começar pelo astronauta russo Yuri Gagarin lá do alto assegurando e colorindo: “a Terra é azul”. Frei Betto reagiu com humor oportuno: “Está redondamente enganado quem crê que a Terra é plana”. Mas tem gente que prefere mesmo viver no mundo da Lua.

Quando Neil Armstrong pisou lá, a Terra parou para ver aquele espetáculo de outro mundo. “Poetas, seresteiros, namorados, correi, é chegada a hora de escrever e cantar,talvez as derradeiras noites de luar”, alertava Gilberto Gil na canção “Lunik 9”, bem no clima da corrida espacial travada entre russos e americanos. Outra canção dessa época, “Viola enluarada”, (Marcos e Paulo Sérgio Vale) via o satélite por outro prisma, o da resistência, característica daqueles anos de chumbo: “Viola em noite enluarada, no sertão é como espada…” Antes ainda, Catulo da Paixão Cearense havia teluricamente assegurado: “Não há, ó gente, ó não, luar como este do sertão”.

É extensa a trilha sonora sobre a Lua. Imagino que desde as cavernas havia trovadores grunhindo alguma loa, avança com os menestréis da Idade Média, passa pelos aborígenes a transformando em deusa. E quanta trilha para a Lua, anônima ou famosa, já se compôs debaixo do Sol? Ou quase anônima como, por exemplo, a composição, “Culto à Lua”, de Homero Guru, primeiro lugar de um daqueles festivais autorais de Alegre lá na década de 1980. Brilhou ali, depois foi encoberta pelas brumas do tempo, como tantas luas e canções premiadas nos festivais da vida.

A trilha sonora mais conhecida começa pelo clássico de 1934, “Blue Moon”, composto por Richard Rodgers e Loren Hart, que transforma a Lua em confidente: “Lua azul, você me viu sozinho, sem um sonho em meu coração, sem um amor para mim…”, gravado por muita gente estrelada, Billie Holiday, Elvis Presley, The Platters, Frank Sinatra… E conta com várias versões de brasileiros, de César Camargo Mariano a Rita Lee.

A trilha Passa por “Fly me too the moon” (Bart Howard), canção mais conhecida na voz de Frank Sinatra, incluindo uma regravação dele em dueto com o nosso Tom Jobim (“Leve-me para a Lua, deixe-me brincar entre as estrelas, deixe-me ver como é a primavera em Júpiter e Marte…”), avança pelo tema de Toninho Horta “Pedra da Lua”, dança sensualmente com Rita Lee, “A gente faz amor por telepatia, no chão, no mar, na Lua, na melodia”, balança com Os Paralamas apontando que a Lua merecia a visita de bailarinos, não apenas de militares. E vai longe evocando “Moon River”, clássico da canção de cinema americano lançado em 1961.

Em sua concepção, essa canção associada à Lua nada tem a ver com o nosso satélite. A melodia envolvente composta por Henry Mancini recebeu versos de Johnny Mercer, que se inspirou em um largo rio chamado Moon River, que corta a aldeia onde nasceu, Savannah, na Geórgia. Diz trecho da letra: “Rio da Lua, mais largo do que uma milha, eu irei de encontro a você com elegância, qualquer dia”. Outra curiosidade é que a música ficou mais famosa do que o filme, “Bonequinha de luxo”, para o qual foi escrita como trilha sonora. E antes de emplacar como tal, a canção “Moon River” atravessou turbulência quando um executivo da Paramount, ruim de ouvido, encasquetou de tirá-la do filme. Reza a lenda que a bela atriz Audrey Hepburn, para o bem da arte, bateu pé e desafiou: “Só por cima do meu cadáver”.

Cortejada até pelo Pink Floyd – que transformou “The dark side of the moon” num clássico do rock –, quando enfim a Lua foi conquistada pelo homem, acabou rapidamente abandonada. Astronautas que não são deuses são volúveis como todos mortais. Agora, cogita-se voltar lá para fincar base de outra jornada ainda mais desafiadora, que é chegar a Marte, 136 vezes mais distante da Terra do que a Lua. E haja trilha sonora para empurrar adiante esse sonho de chegar a outro mundo em vida.

Lá nos anos 1960, um antecessor de Roberto Carlos chamado Sérgio Murilo já prospectava com a balada “Marcianita”. A certa altura a letra diz: “Eu quero um broto de Marte que seja sincero, que não pinte, nem fume nem saiba sequer o que é rock and roll”. Hoje sabemos que não existem marcianitas no chamado planeta vermelho, muito menos aqueles ETs verdes esquisitos da ficção. E no dia em que o homem conseguir pisar em Marte, o mais difícil estará feito. Colonizar será bem mais fácil: basta colocar lá a onipresente Anitta rebolando sensualmente ao lado da Gretchen, juntamente com alguns antigos e novos namorados da dupla.