SÃO PAULO – A bolsa teve dia de alta e o dólar, de queda sobre o real nesta quarta-feira (24), reagindo ao julgamento no 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que manteve a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex em Guarujá (SP).

O dólar caiu 2,44%, vendido a R$ 3,159 – o menor valor desde outubro. Já o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa, subiu 3,72%, aos 83.680 pontos, renovando patamar recorde histórico, em termos nominais.

Foi também a maior alta diária desde janeiro de 2017. No primeiro mês do ano, o dólar acumula queda de 4,69% e a bolsa, alta de 9,53%.

O mercado monitora o julgamento há várias semanas, de olho nas possibilidades para as eleições presidenciais de 2018, já que a condenação pode tornar Lula inelegível. O ex-presidente, que vinha liderando as pesquisas de intenção de voto, é visto pelo mercado financeiro como um candidato menos comprometido com a continuidade de reformas de ajuste fiscal consideradas importantes para reequilibrar as contas públicas.

“O aspecto principal que o mercado observa é a necessidade que o presidente que for eleito dê continuidade às reformas de ajuste fiscal, e a da Previdência é a principal delas neste momento”, diz o analista-chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech.

Ele aponta que não há expectativa que essa reforma seja votada ainda neste ano, o que adia a discussão para 2019 e aumenta o foco dos investidores sobre a disputa eleitoral.

A economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, também comenta que o foco do mercado é a possibilidade de aprovação de medidas de ajuste pelo próximo presidente da República.

Ela ainda comenta que, caso as perspectivas sobre isso sejam positivas, a tendência é que o otimismo no mercado se prolongue.

“Ativos brasileiros tendem a se valorizar – câmbio, bolsa etc –, com consequências positivas para a inflação e para os juros. Para a reforma da Previdência, não vejo alterações significativas”, diz Zara.

No entanto, o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, ressalva que “o episódio de hoje pode ter sido dramático, mas está longe de ser definitivo”. “Ainda teremos muitos desdobramentos da campanha de Lula para se tornar candidato à presidência”, disse.

A defesa de Lula ainda pode recorrer e buscar exceções na lei para viabilizar sua candidatura. Veja cenários possíveis após a decisão do TRF-4.

O placar

Julgamento do recurso do ex-presidente Lula no TRF-4. (Foto: Sylvio Sirangelo/AFP/ TRF-4)Julgamento do recurso do ex-presidente Lula no TRF-4. (Foto: Sylvio Sirangelo/AFP/ TRF-4)

Foto: Sylvio Sirangelo

Durante o julgamento, os economistas permaneceram atentos a pistas sobre qual seria o placar final da votação dos três desembargadores do TRF-4.
Isso porque, em caso de divergência entre eles, a defesa de Lula teria possibilidades mais amplas de questionar a decisão por meio de recursos.

“O mercado entende que uma condenação em segunda instância que não seja por unanimidade poderia dar força para a candidatura do ex-presidente Lula”, comentou em nota Fernando Bergallo, Diretor de Câmbio da FB Capital.

A decisão final – de 3X0 contra Lula – reduz as possibilidades de recursos para a defesa de Lula. Ainda assim, a defesa de Lula poderá tentar evitar que, no dia dos registros das candidaturas, em 15 de agosto, ele possa ser considerado inelegível.

Para o economista sócio da Go Associados, Gesner de Oliveira, a leitura do mercado é de que a decisão de manter a condenação enfraquece a candidatura de Lula, o que aumenta o otimismo com mais chances de eleição de um candidato pró-reformas.

Com informações da Agência Globo/Valor